Para a pantalona, nesga

Liliane Oraggio, colunista que assina os Tesouros sem Frescura, encontra uma chave para o equilíbrio diário. Fala Lili!

Hoje estou antiguinha e fui topar com esse clip: Diariamente, de Nando Reis, na voz de Marisa Monte me tirou do caos. Os desenhos infantis da animação, as coisas bem dos anos 70, me puseram no colo da simplicidade, para tocar os emaranhados desse dia de calor senegalês, moden pifado e enxaqueca chegando. “Para dificeis contas: calculadora. Para o lápis de ponta: apontador. Para brincar numa gangorra: dois. Para fazer uma touca: bobs. Para os dias de folga: namorado. Para aumentar a vitrola: sábado. Para a cama de mola: hóspede. Para a pantalona: nesga. No fim da música o yin-yang alinhou com o aqui-e-agora, até Buda tirou um cochilo.

Por Liliane Oraggio

Chagall nos Sonhos

Na coluna Tesouros sem Frescura desta semana, Liliane Oraggio abre seu arquivo de imagens do inconsciente. Sonha, Lili!

Birthday 1915 de Marc Chagall

Chagall nos Sonhos

Desde criança sonho muito. Há uns tempos, comecei a aproveitar o tecidos dos sonhos em contos mínimos.
Tenho uma série deles que vou postar aqui, vez ou outra, entremenado os tesousos da realidade. Este contito é dedicado ao Roberto Gambini, brilhante analista junguiano, amigo querido, tradutor do livro “O Caminho dos Sonhos”, de Marie Louise von Franz e Fraser Boa. Esta obra mudou a minha vida e aumentou o gosto por sonhar e desvendar o material bruto do inconsciente. Em 2009, Gambini ganhou o prêmio Jabuti por “A Voz e o Tempo” , em que sintetiza sua experiência clínica dos últimos 30 anos. Eu tenho a sorte de saber que ele escreve como fala e enquanto leio posso ouvir sua voz e suas pausas… E, para combinar, claro, Marc Chagall que sempre me transporta por suas cores, bichos e atmosferas surreais.

Onírico 4

Birthday, 1915. Essa era a legenda para o quadro de Chagall disponível nos e-cards do Moma, de Nova York. Tudo na cena flutuava e de tanto olhar a imagem Ingrid já tinha sido o buquê colorido, o beijo suave, o homem, a mulher, o vestido, o tapete, as franjas do tapete. Naquela noite, clicou enviar e lançou, mais uma vez, Chagall pelos ares. Caminhou até o último dos três quartos do corredor, o silêncio entranhado na pouca mobília, na imensidão da casa quase vazia. Afundou o rosto na fronha de borboletas. Roberto entrou de terno escuro e camisa branca, se pôs a seu lado vestido. Num malabarismo certeiro, enlaçou-a pela cintura, mão firme, máscula, madura. Os pés de Ingrid calçados com delicados sapatos de salto deixaram o chão, os dele nunca tinham deixado o éter. Assim em levitação mútua foram se deslocando rápido, sem sequer arranhar a gravidade. Iam, simplesmente, juntos, na direção da cor.

Por Liliane Oraggio

O Ano do Tigre

Você acredita em horóscopo? Eu não, mas sempre consulto, rsrsrs! É algo  do tipo: não acredito em planetas, mas que eles existem, existem! Brincadeiras à parte, esta semana, a colunista Liliane Oraggio foi assuntar, com quem entende do assunto, o que a astrologia chinesa nos reserva em 2010. Conta tudo, Lili!

O Ano do Tigre está Rugindo pra Você

A cegonha não respeitou a geografia. Voando para além das terras da Ásia, acabou entregando no interior do Brasil o menino Carlos Solano. Ele não tem olhos puxados, mas tem o oriente na alma. Cresceu em Minas Gerais, se formou em arquitetura e tornou-se um especialista em Filosofia Chinesa e nos Estudos do Feng Shui da Escola da Bússola, feitos na China. Ele é uma das jóias do meu tesouro. Há quase uma década, compartilhamos muitas idéias, projetos, risadas, inquietações e, de vez em quando, café com broinha de fubá.Essa semana Carlos Solano aceitou meu convite para revelar o que nos reserva o Ano do Tigre, que começou em 3 de fevereiro e vai até o começo do ano que vem.

Liliane Oraggio – Quais as energias do ano do Tigre? Há o que temer?
Carlos Solano – Para entender o ano, basta olhar o animal. Como é um Tigre? Forte, potente, feroz, corajoso, radical, determinado (dizem que, quando caça, o Tigre escolhe uma presa e a persegue até o fim, mesmo que outras surjam no caminho), belíssimo, independente, noturno… Essas são também as qualidades do ano, que nos estimula a realizar a verdade, com intensidade e criatividade. Com a ajuda do Tigre, nós podemos nos lançar em projetos ousados, nos arriscar em grandes sonhos e realizar transformações profundas. Em 2011, chega o Ano do Coelho, que traz uma qualidade oposta, o aquietar, o enriquecimento interno.

L.O – A cultura chinesa considera também a força dos 5 elementos da natureza – Terra, Fogo, Água, Madeira e Metal – associada aos Animais do Horóscopo. Por isso 2010 é o Ano do Tigre de Metal. O que quer dizer isso?
C.S. –  O Tigre de Metal não é de meio-termo, ele é direto e faz as verdades sempre virem à tona. A característica básica deste animal é a “garra” (é difícil escapar das garras de um tigre), ou seja, a vontade, o arrojo. Mais inflexível, exige o cuidado de não passar por cima das outras pessoas ou de nós mesmos, de saber ouvir, de ter tato e flexibilidade.

L.O – Como estar em sintonia com essas forças harmonizando o corpo, a casa e o planeta?
C.S. – Vamos por partes…

No corpo: O Tigre tem grande energia física e uma natureza muito passional. O fígado é o órgão associado ao Tigre e a recomendação, neste ano, é não desgastá-lo com os acessos de raiva, com as paixões excessivas, com ansiedade e obsessões.

Na roupa e na casa: O Tigre é absolutamente autêntico, tem personalidade forte e, na casa, não gosta de modismos ou de obrigações decorativas. Ele quer uma casa que seja ousada, imaginativa e personalizada. O mesmo vale para o modo de se vestir. É hora de criar seu próprio estilo e se diferenciar da massa com muita ousadia.

No planeta: O Tigre faz parte de uma tríade de animais (junto com o Cavalo e o Cão), chamada de Protetores: são defensores da verdade e da justiça e procuram auxiliar o meio. Este é um bom momento para realizar mudanças sociais e políticas, de envolver-se em grandes campanhas humanitárias ou pelo meio-ambiente. É época de pensar grande e realizar coisas positivas que beneficiem muita gente.

L.O. – Como deve ser o nosso faro no Ano do Tigre?
C.S. – O Tigre é um idealista, ele diz: “Eu sinto…”  E vai atrás. Lembra daquela brincadeira de criança, de vendar os olhos e procurar o que está “quente” ou “frio”? Então, esta é uma boa tática para fazer escolhas em 2010. Avalie as situações instintivamente, confie nas primeiras impressões, nas percepções e sentimentos, siga o caminho que parecer mais “quente”….

Para saber mais, acesse Signo Chinês

Por Liliane Oraggio

Foto: ArtBerri

Oficina de sensações

A esta altura, acho que muita gente já se habituou a ver aqui, às sextas-ferias, a coluna Tesouros Sem Frescura de Liliane Oraggio. Acho até que tem gente que espera ansiosamente (como eu!) pelos textos preciosos, inspirados. E desta vez, ela fala de um workshop capaz de trazer à tona o brilho eterno de algumas mentes criativas. Conta tudo, Lili!

De dar água na boca e nos olhos

Agora estou de olhos fechados. Sim, vou fazer este post na escuridão, pálpebras cerradas, luzes apagadas, apenas sentindo as teaclas coordenadas com o movimento apreendido dos meus dedos. Não vou corrigir erros de grafia ou pontuação, a mente do leitor vai complear facilmente as frases. Por favor, estou compremetendo a minha correção joornalística com a intenção de que as imperfeiçoess aqui serem aceitas, como parte intrínseca do caminho até o novo, até o que não existe ainmda. não serão erros, apenas experiencia. Combinado?Vamo? Isso faz sentido depois da tarde inusitada que vivi na ultima quartafeira (ja não lembro onde é o hífen]…

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A Designer mineira Mary Arantes, que faz as bijoux mais doces e cativantes que eu conheço, coordennou a oficina Comer com os Olhos, no Zigue*Zague, evento paralelo ao SpFAshion Week. Comer com os olhos também foi o nome de sua ultima coleçao que exaltou os cinco sentidos: “A minha arte sempre reinventa outras artes. Fiz uma longa pesquisa sobre olfato, tato, paladar, audição e me dei conta do quanto a nossa cultura prioriza a visão. Aí ser fez necessário aprender com os deficientes visuais como é viver sem enxergar, sentir sem ver”, diz ela a platéia de vinte eicnco pessoas, reunidas em torno de uma távola quadrada. O convite era para que todos se fartassem com certas misturas, pois Mary faz bijous juntando pérolas com folhas de louro, cordões de cetim com anis estrelados, macarr~~ao e fios de seda, biscoisto de polvilho e veludo, nozmoscada com voal. Numa alquimia de formas, cheiros e texturas.Todo esse material irresistível estava a disposição, para que cada um de nós  se servisse a vontade e degustasse produzindo colares, pulseiras, anéis. “Não vou ensinar nada. Cada um de voces já é criativo e vale a experiência. ”, disse a anfitriã.

Entre os participants havia trêss mulherees , deficientes visuais,  da Associação dos Deficientes Visuais e Amigos, feras no Braille e na vida cheia de superações. “Eu não entendo o que é o azul petróleo. Só enteendo os azuis comparados com aquele que eu conheci. E para mim petróleo é preto”, disse a Yacopina a mais falante do trio. “Quando já estou acostumda com a roupa fica fácil combinar as cores e os modelos, mas quando é roupa nova leva um tempo para decorar”, contou ela ao estilista Geraldo Lima, que fez da relaçao da cegueira com a moda o tema de sua tese de mestrado. Vera Lúcia tateou os bowls cheiso de contas e outras delicias e logo escolheu as estrelas de anis e os canutilhos de canela , sentindo cada peça antes de resolver a orndenaçãoop.  e, numa excitação de criança fazendo traquinagem , dizia. “ Nossa, olha, que bonito”, assim via s em ver e com muito a destreza ia juntandoos fragmentos do seu colar amoroso. Yacopina preferiu os cordões de cetim, marroons e com aajuda do Geraldo passou por todas as encruzilhadas da sua invenção tateada. Não que ela não soubesse tudo, a maneira ágil e precisa com que construiu a seqüência da sua obra primeira foi incrível. De seus dedos foi surgindo o cordao trançado com o que há de mais poético na regularidade, na repetição dos padrões. “É só fazer o esquema mental e seguir a senquencia”, disse assim como sefosse coisa simples…

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Esse segredo tao fácil de ser desvendado por Yacopina, foi o desafio aceito por Claudia, que enxerga e muito bem. A moça foi a unicca da sala que se aventurou a abandonar o mundo visual,e, de olhos vendados, pela própria Mary, seguiu o caminho do mistério. “Quando veio o escuro fiquei toda arrepiada, me deu um frio por dentro, achei quenao ia conseguir. Tinha que prestar atençao dobrada  , fiquei perdida e tive que ir mais devagar. Fui me acostumando, fazendo as amarrações  e fui me acalmando”, conta ela depois de concluir o colar compotso de cordös e pedaços de voal.

Em alguns momentos, a concentração era absoltua, o silëncio se instalava como se fosse o alimento insubstancial que acompanha os flashs da criação, feita de muiotas, muitas escolhas e hesitações.

“continuo de olhos fechados, telcando…, agora me preoucpo se errei muito.

Na hora do workshp eu fiquei mesmo de olhos bem abertos, fotografando tudo, como se fosse possível registrar a ternura da Mary ao ensinar, literalmente, os segredos de suas receitas enviezadasL “ os cordões sãoo feitos de cetim barato, mas fica asism quando é cortado de viés. Isso faz toda a diferença”. Informação quentinha, de bandeja pra quem ouviisse.

Também fiquei de olho na alegria dos jovens estilistas, que mexiam com o matedrial inusitado e iam na liberdade  ação tecendo acessórios onde cabia cor, variações  em série , no sabor do acerto e erro.

E tinha uma figura que me fez agradecer o prazer que é olhar. A japonesa Miki, artista plástica, escritora, bonequeira e inventora de mil e uma delicadezas, vestia com uma capa de renda azul birlhante que, por incivel que pareça, combinava perfeitamente com uma tiara de plumas salmon, claro, inventada pela Mary. E os óculos? E os sapatos? E o sorriso de timidez de sol nascente. Um deleite de visual retrô borbulhante… Das mãos dela vi nascer uma coleção de anéis: em mintuos fez meia dúzia de lindezas, com nós, perolinnhase uma pitada de … cola quente: “Cola quente é tudo! Foi a Miki quem me ensinou a \\que pano também pode adorar adornar as mãos.  Passamos a tarde nessa nutriçáo esbanjada, de muitas descobertas, implícitas e explicitas,. Além do que fizemos, la mesmo já começou  o processo de querer mais. Era Gula pelo criativo!~~> Yacopina, Vera Lúcia e Sandra terminaram a tarde reluzentes, elas mesmas eram as jóias enfeitas por suas bijxous. E juntos estávamos na comunhado da refeiçao bem preparada, em décadas de prática e apuro da mestre -cuca (naada fresca) Mary.

Ainda continuo escrevendo     de olhos fechados… o lfuxo de pensamentos traz de volta os gestos das tantas mãos, atiçadas pela textura dos fios, pelo perfume da lavanda d ,  das especiarias. Enqautno digito, graças a deus fiz datilografia quando era menina,  no escuro, me embreago com todas as sesaçoes brotadas frescas naquela sala sem janelas do Museu Arte Moderna de São Paulo.

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Antes de sair, como tenho sangue caipira também, resolvi fazer um farnel, pra levar do que tinha de melhor e lembrar do banquete já quando ele não mais existisse. Recheei um pedço de voal com um pouco de cada iguaria:  caprichei na quantidade lavanda e nas perolas grandes, um cordao fúcsia, um encarnado, linha seda e forminhas de metal. O colar que eu fiz também foi pro pacote que amarrei com fitas azuis e verdes. Quando saímos, aalma a estavva macia e doce pela sobremesa que foi tudo, do começo ao fim… Voltei pra casa num contentamento infantil abri o farnel e fiquei lá … degustando, agora no silencio, agora já conhecendo  o que no mesmo dia de manha era mistério. Fiquei até as duas da madrugada trabalhando em um anel decetim cor de coral, com perolinhas e muitos arremates… pensando em como fazer este post. AS duas da manhã fui pra cama. Lembrei que não tinha comido nada desde o almoço. Não precisava… acho que isso deve ser parecido com a quela historia de so se alimentar de luz… Peguei no sono com  a gratidão por compartilhar de tanta riqueza ã mesa, e ã moda da Mary.

Agora, já quase meia-noite do dia seguinte, enquanto estou digitando esse texto minhas pálpebras descansam e só as imagens de dentro tomam conta. nesse ver o dia pelo avesso , fico com água na boca, com águanos olhos e agradeço de novo. Santa Luzia passou por aqui, toda enfeitada, com seu cavalinho comendo capim!

Por Liliane Oraggio

Tem mais fotos nesse álbum, AQUI

Do inconsciente para a Faria Lima

Esta semana, na coluna Tesouros Sem Frescura, Liliane Oraggio vê seu sonho de velocidade se tornar real. Conta tudo, Lili!

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Sempre dirigi bem e poucas coisas me relaxam mais do que me embrenhar numa estrada de terra bem cheia de buracos e surpresas. Fora isso, os carros nunca foram foco da minha paixão. Até que comecei a sonhar com veículos. Às vezes, eu estava na direção de um modelo comprido que não era possível estacionar em lugar algum. Outras, eu ocupava o banco de traz, embora os assentos da frente estivessem vazios… Muitas variações surgiram com o tempo, mas depois de dezenas de ‘noites automobilísticas’ os sonhos, por eles mesmos, começaram a fazer sua síntese. Passei e pilotar modelos incríveis, sempre muito compactos, para uma ou duas pessoas no máximo. Eram velozes, confortáveis e a traseira era quase sempre reta. Eu era transportada em bólidos pretos, vermelhos, prateados, um era azul turquesa e outro anfíbio: passava da terra ao mar numa elegância sublime. Enquanto isso, no tempo acordado, a lentidão do trânsito dezembrino… sufoco dezembrino… calor dezembrino… e… no meio da poluição… surgiu, poderosa, a sincronicidade! Foi sábado passado, na Faria Lima, em plena luz do dia.Tive que me beliscar quando vi em ‘em carne e osso’ o primo irmão das máquinas dos meus sonhos. Não eu não tinha bebido: em rápidos gerúndios ele foi passando, tombando na curva, deslizando para a dianteira da faixa de segurança, feito pluma prateada, chamando uma atenção louca. Babei, mas anotei o nome: Carver One. Dois clics no Google e a competência do repórter Paulo Campo Grande, da Revista Quatro Rodas, provaram que não tinha sido miragem: o bichinho não é carro nem moto, é um triciclo com cockpit. Foi inventado pelo holandês Anton van den Brink para ser a solução econômica e ideal para as grandes cidades. A belezura pesa só 643 quilos, tem motor 2.0 e pode chegar facinho aos 185 km/h. Cruzar com este único exemplar circulando no Brasil me tirou do chão. Por alguns instantes, o relógio parou, o espaço foi comprimido e eu experimentei a sensação de estar no campo da potencialidade pura, onde tudo o que minha mente projeta pode vir a ser real. O tal devir, veio e ganhou velocidade nas ruas despertas do inconsciente…

Por Liliane Oraggio

Assista ao vídeo com o Carver One, clicando aqui!

cliques de mestre

Esta semana, na seção Tesouros Sem Frescura, Liliane Oraggio dirige o olhar para a obra de um grande fotógrafo, mestre em captar a essência das coisas banais. Espia só!

Foto: Walker Evans / 1937

Peguei o metrô para ver a mostra de Walker Evans, que fica no Masp até dia 10. Fui reparando nas pessoas que entravam e saiam dos vagões, no sábado chuvarento. Namorados entrelaçados pelas mãos. Mãe preta e filho dormindo no seio generoso. Olhar perdido no rosto do homem que tinha o susto congelado na cara. Tão bonitos… tão de verdade. Estava sem a câmera, mas fiz mentalmente esses registros das múltiplas formas humanas, tentando fixá-las em pleno trânsito.

Eu sabia que Evans tinha sido um dos mais importantes fotógrafos americanos, que a exposição era composta por 120 imagens feitas nos Estados Unidos, entre 1920 e 1970. Além de usar a câmera para esquadrinhar a geometria das cidades, eu não sabia que a expressão espontânea estava sempre na mira de suas lentes. “As profundezas do metrô são um lugar onírico para qualquer fotógrafo farto dos estúdios”, dizia Evans, anunciando o modo que encontrou para escapar do que era produzido, previsível, ensaiado, registrado em ambientes artificiais, ou seja, de tudo o que se fazia naquela época. Mantendo a mesma qualidade técnica e estética, com um faro antropológico, ele foi clicando as cenas cruas. No metrô de Nova York é inverno. As pessoas estão vestidas, mas os gestos estão nus. Homens, mulheres, crianças são notáveis porque são vivos e são comuns. Essa grande transgressão, que rompeu na década de 30, libertou Evans e seus retratos marcaram a história da fotografia.

Na outra sala, a série de polaróides é outra emoção. Nos anos 70, munido de uma SX-70, Evans quebra a resistência à revelação instantânea e firma com ela um novo pacto com a liberdade. Finalmente, as imagens servem ao real e ao instante, sem distrair o foco do belo meramente contemporâneo.

Fica a inspiração: enxergar o exuberante daquilo que-é-o-que-é, o que combina perfeitamente com as nossas câmeras digitais. Seria Evans uma espécie de bisavô da nossa sede de imagens?

Exposição até 10 de janeiro de 2010, no MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand
Avenida Paulista, 1.578 (telefone: 11 – 3251-5644)
Horários: De terças-feiras a domingo e festivos, das 11h às 18h.
Às quintas-feiras, das 11h às 20h. Ingressos: Inteira: R$ 15,00.
Estudantes: R$ 7,00. Gratuito até 10 anos e para maiores de 60 anos.

Por Liliane Oraggio

Qual é sua utopia?

Gostaria de pedir desculpas aos leitores por não ter publicado, na semana passada, a coluna Tesouros sem Frescura, de Liliane Oraggio.  Hoje, nesta última quinta-feira do ano, ela nos oferece um ótimo post sobre as resoluções de ano novo. Fala, Lili!

Qual é a sua utopia?
Janeiro exige que a gente projete o futuro e isso não tem nada a ver com as intermináveis listas de resoluções de final de ano: fazer musculação três vezes por semana, voltar pras aulas de inglês, guardar um dinheirão, cair no colo do príncipe encantado… Segundo o psicanalista Jorge Forbes, fera lacaniana, autor do livro “Você quer o que você deseja?”(ed. Best Seller) todas essas vontades não resistem nem a primeira quinzena do ano, justamente, por que não estão em sintonia com o que realmente se quer, e sim com os muitos padrões externos, em que tentamos nos encaixar para viver um modelo artificial de realização.
“Essa lista é uma forma de manter a sensação de controle, sem o desconforto de se arriscar. Funciona mais como uma proteção para quem não quer viver o novo”, me disse Forbes em uma entrevista feita há alguns anos, quando eu ainda era editora de comportamento da Revista Marie Claire e tentava fazer de maneira diferente a velha reportagem sobre expectativas de réveillon.
A proposta inovadora de Forbes é trocar a obrigação dos abdominais por um vigoroso exercício de utopia. O psicanalista sugere fazer uma lista com 20 desejos, aparentemente, improváveis, sem censura, registrando tudo o que passar pela cabeça. Por que não colher feijões na Sibéria ou fazer um dueto com Nina Simone? Vale tudo, tudo mesmo, desde que tenha a ver com a sua essência. “Na verdade o que conta aqui não é realizar essas coisas literalmente, mas perceber que esses quereres utópicos dão pistas sobre seus desejos mais verdadeiros e é possível caminhar nessa direção”, explica o analista, “com esse treino de utopia as pequenas invenções do cotidiano dão brilho à vida e podemos perceber que todos nós realizamos muito mais do que reconhecemos ter feito. É mais fácil reclamar do que não conquistei do que realizar um desejo e suportar isso, mas se nem você sustenta a sua vontade quem vai sustentar?”. Boa pergunta… E fica o alerta: quem não se reinventa perde o bonde e as botas. Portanto, se quiser me mandar a sua lista de utopias, vai ser a glória tê-la entre os meus tesouros. Agora chega de post que estou indo pra essa balada em que já confirmaram presença Don Quixote, Leonardo da Vinci, Salvador Dali, Lao Tsé e muita gente que pensa grande e longe. Hasta la vista, babe…

Qual é a sua utopia?

Janeiro exige que a gente projete o futuro e isso não tem nada a ver com as intermináveis listas de resoluções de final de ano: fazer musculação três vezes por semana, voltar pras aulas de inglês, guardar um dinheirão, cair no colo do príncipe encantado… Segundo o psicanalista Jorge Forbes, fera lacaniana, autor do livro “Você quer o que você deseja?” (ed. Best Seller) todas essas vontades não resistem nem a primeira quinzena do ano, justamente, por que não estão em sintonia com o que realmente se quer, e sim com os muitos padrões externos, em que tentamos nos encaixar para viver um modelo artificial de realização.

“Essa lista é uma forma de manter a sensação de controle, sem o desconforto de se arriscar. Funciona mais como uma proteção para quem não quer viver o novo”, me disse Forbes em uma entrevista feita há alguns anos, quando eu ainda era editora de comportamento da Revista Marie Claire e tentava fazer de maneira diferente a velha reportagem sobre expectativas de réveillon.

A proposta inovadora de Forbes é trocar a obrigação dos abdominais por um vigoroso exercício de utopia. O psicanalista sugere fazer uma lista com 20 desejos, aparentemente, improváveis, sem censura, registrando tudo o que passar pela cabeça. Por que não colher feijões na Sibéria ou fazer um dueto com Nina Simone? Vale tudo, tudo mesmo, desde que tenha a ver com a sua essência. “Na verdade o que conta aqui não é realizar essas coisas literalmente, mas perceber que esses quereres utópicos dão pistas sobre seus desejos mais verdadeiros e é possível caminhar nessa direção”, explica o analista, “com esse treino de utopia as pequenas invenções do cotidiano dão brilho à vida e podemos perceber que todos nós realizamos muito mais do que reconhecemos ter feito. É mais fácil reclamar do que não conquistei do que realizar um desejo e suportar isso, mas se nem você sustenta a sua vontade quem vai sustentar?”.

Boa pergunta… E fica o alerta: quem não se reinventa perde o bonde e as botas. Portanto, se quiser me mandar a sua lista de utopias, vai ser a glória tê-la entre os meus tesouros. Agora chega de post que estou indo pra essa balada em que já confirmaram presença Don Quixote, Leonardo da Vinci, Salvador Dali, Lao Tsé e muita gente que pensa grande e longe. Hasta la vista, babe…

Por Liliane Oraggio


Banzos de Natal

Na coluna Tesouros Sem Frescura desta quinta-feira, Liliane Oraggio descasca o abacaxi natalino. Não para incrementar uma receita de tender, mas para recolocar a ansiedade e a depressão, que muita gente sente nesta época do ano, no seu devido lugar. Fala, Lili!

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“Olha só a minha boneca!”

Fuçando no bau encontrei essa foto. Era 1970. Eu tinha sete anos e estava passeando num shopping em Miami, onde moravam meus avós. “Vai lá no colo do Papai Noel! Vai, Vai”. Eu não queria, já tinha tido experiências assustadoras com outros Bons Velhinhos em, no mínimo, quatro outras festas de Natal de que tinha lembrança. Ficava apavorada com o tamanho da criatura que surgia do nada, quando a festa estava bem boa. Eu abria o berreiro, sem dó. Agora essa: mesmo tão longe de casa, na delícia das minhas ferias, tinha pela frente aquele ser enorme e rubro pronto para me aconchegar. Argh! Mas, na época ainda não era desobediente. Fui. Se fecho os olhos ainda sinto o cheiro de colônia, a temperatura quase febril do homem que sorria metido no escafandro de lã vermelha, gordo legítimo, escondido pela barba 100% náilon. Para selar nosso estranhamento, ele queria que eu fizesse meus pedidos em inglês! O jeito foi sorrir para a câmera e cair fora da armadilha. Mas, a cena ficou presa na foto que os avós adoraram e mostraram para todos os vizinhos cubanos. “Olha só a minha boneca!”  Nesse dezembro de quase doismiledez,  a imagem salta da caixa e faço as contas… quase tudo mudou, mas ainda vivo às turras com Noel, resistindo ao seu colo convencional, ao aperto que provoca tudo que é estrangeiro em mim.

Banzos de Natal

Se você ama Natal nem leia este post que foi criado especialmente para aqueles que detestam as festas. Não é à toa que nessa época muita gente é capturada por uma espécie de tristeza grossa que, somada ao estresse, ao trânsito carregado e a vontade de se superar, acende o “abominável homem das neves” que existe em cada um de nós. Além dos shoppings, os consultórios de terapeutas ficam cheios de gente angustiada com o balanço do ano, com o trabalho sem fim, com a sensação de fracasso, de impotência e demais chorumelas. Claro, todas as queixas são legítimas, a questão pode ter raízes profundas e cabeludas na infância, mas dá para evitar tanto desconforto.

Nessa entrevista, a psicóloga Vera Couto fala dos principais antídotos contra os banzos de final de ano! E sem querer ser Poliana: a melhor coisa deste Natal é que é o dia mais longe do Natal do ano que vem. Já pensou nisso?

Liliane Oraggio – Por que essa época mexe tanto com a gente?
Vera Couto – Nesta época do ano há um acúmulo de “avaliações” internas e externas do que foi vivido. As pessoas podem passar por profundos estados de angústia e por uma constante sensação de desajustamento.

L. O. – Quais são os sentimentos que afloram nessa época?
V.C. – Os sentimentos mais comuns são tristeza, melancolia, frustração, que, normalmente, não costumam ser muito aceitos em nossa cultura extrovertida e nessa época do ano a extroversão é esperada, estimulada e quase exigida das pessoas. Isso pode provocar a sensação de “não pertencer” a este mundo. Tenho ouvido as pessoas dizerem que gostariam de estar numa casinha na montanha, em contato com a natureza, e não nos shoppings fazendo compras. Esta necessidade de recolhimento é legítima e não há nada de errado com isso. O contato com o sagrado exige recolhimento.

L.O. – Como lidar com o banzo natalino e escapar de armadilhas que nos arremessam para o ressentimento e a culpa?
V.C. – Uma das formas de não cair na armadilha é não ficar tão preocupada ou culpada por não estar conseguindo “dançar esta música”. É não exigir de si uma “euforia” que não se sente. Acolher seu estado anímico e legitimá-lo é um passo importante. Não há a menor necessidade de fugir ou culpar-se por não estar TÃO animada ou com o espírito tão consumista, por exemplo. Estes estados de recolhimento podem servir para resignificar essas datas sagradas que já tiveram, historicamente, outras funções em nossa vida social, psíquica e espiritual.

L.O. – É possível ter um Feliz Natal?
V.C – Esta máxima contém a armadilha do Feliz. Desde que essa celebração tenha um significado próprio, especial para cada um, podemos sim celebrá-la com um colorido especial, na medida das possibilidades e circunstâncias deste momento de vida. Não estaríamos, assim, verdadeiramente, celebrando algo novo que está nascendo?

Vera Couto é psicóloga e psicoterapeuta, com especialização em psicologia clínica na abordagem junguiana e psicologia educacional. Pesquisadora de mitologia grega e coordenadora de grupos de estudos há 20 anos.
Contato: veracouto@uol.com.br

Por Liliane Oraggio

Estreia da nova coluna: Tesouros sem Frescura

Hoje, como parte das mudanças anunciadas no blog, tenho o prazer de apresentar a mais nova colunista do MSF: Liliane Oraggio, jornalista colaboradora de diversas publicações nacionais de grande tiragem. A moça, cheia de talentos, roteiriza, reporta e edita; escreve e fotografa; borda e tricota (com fios e palavras). Não suportou a Faculdade de Psicologia, mas não desistiu de entender a psique humana. Está realizando a formação no Laboratório do Processo Formativo e no Projeto Humanitas (Acompanhamento Terapêutico), em São Paulo.  Conta tudo Lili!

liliane2

Esta coluna, batizada de Tesouros sem Frescura, surge do desejo de fazer uma profundo Feng Shui na minha gaveta de jóias. Sim, quero por na roda gente brilhante que passa no meu caminho, idéias preciosas que chegam aos meus ouvidos, conselhos de ouro das várias sabedorias que nutrem o mundo. Enfim, um mix das descobertas que vou fazendo enquanto circulo pelo jornalismo, pela literatura, pela psicologia e pelas tantas redes em que navego. Enfim, quero compartilhar a papa finíssima que a vida me dá todos os dias.

Papa Fina

bicho-da-varanda

Começo, então, esta coluna, perguntando: quem foi o estilista que rabiscou o modelito desta figuraça?
A natureza é estilista talentosa e organizou muitas moléculas para dar origem a este ser que veio desfilar na varanda aqui de casa, com direito a uma paradinha para fotos e néctar de laranja.
Os pompons nas antenas em curva perfeita, a cor do corpinho e toda a ginga pra se manter na borda da fruta me encantaram. E para completar, ele voa!
Bateu as asinhas e nunca mais… quem souber o nome da criatura, por favor, me diga.

Pão com Intenção

O Sítio Sertãozinho fica a cinqüenta minutos de Belo Horizonte, na Serra de Moeda.
Na casa completamente cercada de flores, vive a Maguidala Guedes, herborista e curadora.
Entre as muitas práticas de cura que acontecem nesse lugar especialíssimo, o Ritual do Pão é o que reúne mais gente, há mais de uma década.
Tudo começou com um sonho. Magui, como é conhecida nas paragens mineiras, sonhou que estava fazendo o pão com a vizinha. Repetiu a cena na realidade. Na semana seguinte, chegaram mais mulheres e assim por diante. Ela e o marido Orestes começaram a abrir sua casa semanalmente, sempre as quartas-feiras, para que a prática fosse feita por mais de 60 pessoas, que se inscreviam e ficavam esperando serem chamadas para a data especial.
Estive lá em duas ocasiões e tive o privilégio de estar nessa prece que renovou minha gratidão e minha conexão com a vida. Ao misturar farinha, água, sal sob o olhar atento da Magui os participantes se concentravam em uma intenção e, em pura alquimia psico-bio-física-e-espiritual entravam em conexão com as qualidades necessárias para o momento vivido. Enquanto a massa crescia, o tempo era aproveitado para a fazer silêncio e contemplar a natureza.
Depois, massa no forno, era hora de ouvir Magui transmitir mensagens individuais, de extrema energia amorosa, indicando os próximos passos a tomar na vida.
Era inacreditável a mudança que acontecia ali, naquelas horas. Me lembro de um grupo de dependentes químicos que chegou com aspecto muito perturbado e, ao término do dia, estavam corados e com olhar sereno. Vivos de novo!
Repeti o ritual com vários grupos de amigos, com crianças, a sós e é sempre uma descoberta que amansa o coração, perfuma a casa e nutre a alma.
Hoje, lá no Sertãozinho, o pão é feito apenas uma vez por mês, por um pequeno grupo. Mas, como fértil multiplicadora, Magui tornou esse conhecimento acessível para mais gente.

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Acaba de ser lançada a segunda edição do “Oráculo do Pão – Alquimia & Milagre”. Com projeto gráfico assinado pela Papel e Tudo, em uma caixinha, estão reunidos um livreto contendo a receita do pão, as orientações para o ritual e 33 cartas com as virtudes e as mensagens da Magui. Entre muitas coisas, ela me ensinou que a cozinha pode ser sim um espaço sagrado, perfeito para treinar a presença e a dedicação. Por Liliane Oraggio
Mais informações: www.sitiosertaozinho.com.br; tel. (31) 3575-1164.