Qual é sua utopia?

Gostaria de pedir desculpas aos leitores por não ter publicado, na semana passada, a coluna Tesouros sem Frescura, de Liliane Oraggio.  Hoje, nesta última quinta-feira do ano, ela nos oferece um ótimo post sobre as resoluções de ano novo. Fala, Lili!

Qual é a sua utopia?
Janeiro exige que a gente projete o futuro e isso não tem nada a ver com as intermináveis listas de resoluções de final de ano: fazer musculação três vezes por semana, voltar pras aulas de inglês, guardar um dinheirão, cair no colo do príncipe encantado… Segundo o psicanalista Jorge Forbes, fera lacaniana, autor do livro “Você quer o que você deseja?”(ed. Best Seller) todas essas vontades não resistem nem a primeira quinzena do ano, justamente, por que não estão em sintonia com o que realmente se quer, e sim com os muitos padrões externos, em que tentamos nos encaixar para viver um modelo artificial de realização.
“Essa lista é uma forma de manter a sensação de controle, sem o desconforto de se arriscar. Funciona mais como uma proteção para quem não quer viver o novo”, me disse Forbes em uma entrevista feita há alguns anos, quando eu ainda era editora de comportamento da Revista Marie Claire e tentava fazer de maneira diferente a velha reportagem sobre expectativas de réveillon.
A proposta inovadora de Forbes é trocar a obrigação dos abdominais por um vigoroso exercício de utopia. O psicanalista sugere fazer uma lista com 20 desejos, aparentemente, improváveis, sem censura, registrando tudo o que passar pela cabeça. Por que não colher feijões na Sibéria ou fazer um dueto com Nina Simone? Vale tudo, tudo mesmo, desde que tenha a ver com a sua essência. “Na verdade o que conta aqui não é realizar essas coisas literalmente, mas perceber que esses quereres utópicos dão pistas sobre seus desejos mais verdadeiros e é possível caminhar nessa direção”, explica o analista, “com esse treino de utopia as pequenas invenções do cotidiano dão brilho à vida e podemos perceber que todos nós realizamos muito mais do que reconhecemos ter feito. É mais fácil reclamar do que não conquistei do que realizar um desejo e suportar isso, mas se nem você sustenta a sua vontade quem vai sustentar?”. Boa pergunta… E fica o alerta: quem não se reinventa perde o bonde e as botas. Portanto, se quiser me mandar a sua lista de utopias, vai ser a glória tê-la entre os meus tesouros. Agora chega de post que estou indo pra essa balada em que já confirmaram presença Don Quixote, Leonardo da Vinci, Salvador Dali, Lao Tsé e muita gente que pensa grande e longe. Hasta la vista, babe…

Qual é a sua utopia?

Janeiro exige que a gente projete o futuro e isso não tem nada a ver com as intermináveis listas de resoluções de final de ano: fazer musculação três vezes por semana, voltar pras aulas de inglês, guardar um dinheirão, cair no colo do príncipe encantado… Segundo o psicanalista Jorge Forbes, fera lacaniana, autor do livro “Você quer o que você deseja?” (ed. Best Seller) todas essas vontades não resistem nem a primeira quinzena do ano, justamente, por que não estão em sintonia com o que realmente se quer, e sim com os muitos padrões externos, em que tentamos nos encaixar para viver um modelo artificial de realização.

“Essa lista é uma forma de manter a sensação de controle, sem o desconforto de se arriscar. Funciona mais como uma proteção para quem não quer viver o novo”, me disse Forbes em uma entrevista feita há alguns anos, quando eu ainda era editora de comportamento da Revista Marie Claire e tentava fazer de maneira diferente a velha reportagem sobre expectativas de réveillon.

A proposta inovadora de Forbes é trocar a obrigação dos abdominais por um vigoroso exercício de utopia. O psicanalista sugere fazer uma lista com 20 desejos, aparentemente, improváveis, sem censura, registrando tudo o que passar pela cabeça. Por que não colher feijões na Sibéria ou fazer um dueto com Nina Simone? Vale tudo, tudo mesmo, desde que tenha a ver com a sua essência. “Na verdade o que conta aqui não é realizar essas coisas literalmente, mas perceber que esses quereres utópicos dão pistas sobre seus desejos mais verdadeiros e é possível caminhar nessa direção”, explica o analista, “com esse treino de utopia as pequenas invenções do cotidiano dão brilho à vida e podemos perceber que todos nós realizamos muito mais do que reconhecemos ter feito. É mais fácil reclamar do que não conquistei do que realizar um desejo e suportar isso, mas se nem você sustenta a sua vontade quem vai sustentar?”.

Boa pergunta… E fica o alerta: quem não se reinventa perde o bonde e as botas. Portanto, se quiser me mandar a sua lista de utopias, vai ser a glória tê-la entre os meus tesouros. Agora chega de post que estou indo pra essa balada em que já confirmaram presença Don Quixote, Leonardo da Vinci, Salvador Dali, Lao Tsé e muita gente que pensa grande e longe. Hasta la vista, babe…

Por Liliane Oraggio


Banzos de Natal

Na coluna Tesouros Sem Frescura desta quinta-feira, Liliane Oraggio descasca o abacaxi natalino. Não para incrementar uma receita de tender, mas para recolocar a ansiedade e a depressão, que muita gente sente nesta época do ano, no seu devido lugar. Fala, Lili!

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“Olha só a minha boneca!”

Fuçando no bau encontrei essa foto. Era 1970. Eu tinha sete anos e estava passeando num shopping em Miami, onde moravam meus avós. “Vai lá no colo do Papai Noel! Vai, Vai”. Eu não queria, já tinha tido experiências assustadoras com outros Bons Velhinhos em, no mínimo, quatro outras festas de Natal de que tinha lembrança. Ficava apavorada com o tamanho da criatura que surgia do nada, quando a festa estava bem boa. Eu abria o berreiro, sem dó. Agora essa: mesmo tão longe de casa, na delícia das minhas ferias, tinha pela frente aquele ser enorme e rubro pronto para me aconchegar. Argh! Mas, na época ainda não era desobediente. Fui. Se fecho os olhos ainda sinto o cheiro de colônia, a temperatura quase febril do homem que sorria metido no escafandro de lã vermelha, gordo legítimo, escondido pela barba 100% náilon. Para selar nosso estranhamento, ele queria que eu fizesse meus pedidos em inglês! O jeito foi sorrir para a câmera e cair fora da armadilha. Mas, a cena ficou presa na foto que os avós adoraram e mostraram para todos os vizinhos cubanos. “Olha só a minha boneca!”  Nesse dezembro de quase doismiledez,  a imagem salta da caixa e faço as contas… quase tudo mudou, mas ainda vivo às turras com Noel, resistindo ao seu colo convencional, ao aperto que provoca tudo que é estrangeiro em mim.

Banzos de Natal

Se você ama Natal nem leia este post que foi criado especialmente para aqueles que detestam as festas. Não é à toa que nessa época muita gente é capturada por uma espécie de tristeza grossa que, somada ao estresse, ao trânsito carregado e a vontade de se superar, acende o “abominável homem das neves” que existe em cada um de nós. Além dos shoppings, os consultórios de terapeutas ficam cheios de gente angustiada com o balanço do ano, com o trabalho sem fim, com a sensação de fracasso, de impotência e demais chorumelas. Claro, todas as queixas são legítimas, a questão pode ter raízes profundas e cabeludas na infância, mas dá para evitar tanto desconforto.

Nessa entrevista, a psicóloga Vera Couto fala dos principais antídotos contra os banzos de final de ano! E sem querer ser Poliana: a melhor coisa deste Natal é que é o dia mais longe do Natal do ano que vem. Já pensou nisso?

Liliane Oraggio – Por que essa época mexe tanto com a gente?
Vera Couto – Nesta época do ano há um acúmulo de “avaliações” internas e externas do que foi vivido. As pessoas podem passar por profundos estados de angústia e por uma constante sensação de desajustamento.

L. O. – Quais são os sentimentos que afloram nessa época?
V.C. – Os sentimentos mais comuns são tristeza, melancolia, frustração, que, normalmente, não costumam ser muito aceitos em nossa cultura extrovertida e nessa época do ano a extroversão é esperada, estimulada e quase exigida das pessoas. Isso pode provocar a sensação de “não pertencer” a este mundo. Tenho ouvido as pessoas dizerem que gostariam de estar numa casinha na montanha, em contato com a natureza, e não nos shoppings fazendo compras. Esta necessidade de recolhimento é legítima e não há nada de errado com isso. O contato com o sagrado exige recolhimento.

L.O. – Como lidar com o banzo natalino e escapar de armadilhas que nos arremessam para o ressentimento e a culpa?
V.C. – Uma das formas de não cair na armadilha é não ficar tão preocupada ou culpada por não estar conseguindo “dançar esta música”. É não exigir de si uma “euforia” que não se sente. Acolher seu estado anímico e legitimá-lo é um passo importante. Não há a menor necessidade de fugir ou culpar-se por não estar TÃO animada ou com o espírito tão consumista, por exemplo. Estes estados de recolhimento podem servir para resignificar essas datas sagradas que já tiveram, historicamente, outras funções em nossa vida social, psíquica e espiritual.

L.O. – É possível ter um Feliz Natal?
V.C – Esta máxima contém a armadilha do Feliz. Desde que essa celebração tenha um significado próprio, especial para cada um, podemos sim celebrá-la com um colorido especial, na medida das possibilidades e circunstâncias deste momento de vida. Não estaríamos, assim, verdadeiramente, celebrando algo novo que está nascendo?

Vera Couto é psicóloga e psicoterapeuta, com especialização em psicologia clínica na abordagem junguiana e psicologia educacional. Pesquisadora de mitologia grega e coordenadora de grupos de estudos há 20 anos.
Contato: veracouto@uol.com.br

Por Liliane Oraggio

no pulso da urbe

Quinta-feira é dia da coluna “Tesouros sem Frescura” da Liliane Oraggio. E hoje ela fala sobre o novíssimo livro do artista plástico Jaime Prades. Conta tudo, Lili!

No Pulso da Urbe
Como um moleque, elétrico, todas as moléculas de Jaime Prades se organizam para interlocutar com a alma da cidade. E não é metáfora: usando vários suportes Jaime invade os espaços urbanos com intervenções arqueológicamente pós-modernas. Mesmo quem passa sem ver de fato, é capturado pelo arcaico futurista de suas figuras. Num átimo, as inscrições em paredes ou adesivos jogam os passantes do passado, para o futuro sem excluir o momento do passo, tudo muito delicado.
Em 252 páginas, A Arte de Jaime Prades (ed. Olhares) organiza os últimos trinta anos da intensa produção de Prades, espanhol radicado no Brasil. Integrante do grupo Tupinãodá, ele desvirginou os túneis da Paulista na década de 80, num exercício de clandestinidade cidadã com alta qualidade ética e estética. Hoje, ele coloca conhecimento e sensibilidade a serviço de uma rede de conexão imediata e permanente com a vida nos espaços coletivos.
Aqui, uma pequena entrevista com o Jaimito, jóia antiga do meu Tesouro e com teor zero de Frescura.
Liliane Oraggio – Seu ateliê é a rua?
Jaime Prades – A rua vai contaminando o ateliê, o ateliê vai contaminando a rua, e eu vou encontrando soluções em um espaço que trago para o outro. Eu vejo como uma espécie de respiração, um processo mútuo de inspirações.
L.O.-  De onde vem sua inspiração?
J.P. – Não sei! Só sei que vem. A palavra inspiração é em si vital. Ela indica o movimento da entrada do que está fora. Ao contrário da expiração que traz o que está dentro para fora. As imagens do que vemos no mundo, fora de nós, repercutem simbolicamente nas profundezas da mente, repleta de símbolos. Por sua vez, essa memória ancestral e coletiva de significados se manifesta no mundo e se materializa, por meio das artes, na realidade. Como artista, o que sinto é que sou um mensageiro que traz das profundezas da memória coletiva signos e símbolos para a realidade. Quando o artista povoa a realidade com símbolos, eles tornam-se realidade, e novamente repercutem internamente, carregados de sentido. Nessa respiração permanente, percebo mais a expiração do que inspiração.
L.O. – Qual é a graça da intervenção artística na cidade?
J.P. Fazer arte nas ruas é um esporte radical cheio de adrenalina. Também é um exercício de cidadania e de humanização do nosso espaço comum. As ruas são o retrato do que somos coletivamente. Elas mostram nosso estágio como comunidade. É o “consciente coletivo” exposto, é a caverna a luz do dia. O “Homo urbanus” nas suas mega cidades repletas de inscrições. No lugar de bisontes, extraterrestres.

No Pulso da Urbe

Como um moleque, elétrico, todas as moléculas de Jaime Prades se organizam para interlocutar com a alma da cidade. E não é metáfora: usando vários suportes Jaime invade os espaços urbanos com intervenções arqueológicamente pós-modernas. Mesmo quem passa sem ver de fato, é capturado pelo arcaico futurista de suas figuras. Num átimo, as inscrições em paredes ou adesivos jogam os passantes do passado, para o futuro sem excluir o momento do passo, tudo muito delicado.

Em 252 páginas, “A Arte de Jaime Prades” (ed. Olhares) organiza os últimos trinta anos da intensa produção de Prades, espanhol radicado no Brasil. Integrante do grupo Tupinãodá, ele desvirginou os túneis da Paulista na década de 80, num exercício de clandestinidade cidadã com alta qualidade ética e estética. Hoje, ele coloca conhecimento e sensibilidade a serviço de uma rede de conexão imediata e permanente com a vida nos espaços coletivos.

Aqui, uma pequena entrevista com o Jaimito, jóia antiga do meu Tesouro e com teor zero de Frescura.

Liliane Oraggio – Seu ateliê é a rua?
Jaime Prades – A rua vai contaminando o ateliê, o ateliê vai contaminando a rua, e eu vou encontrando soluções em um espaço que trago para o outro. Eu vejo como uma espécie de respiração, um processo mútuo de inspirações.

L.O.-  De onde vem sua inspiração?
J.P. – Não sei! Só sei que vem. A palavra inspiração é em si vital. Ela indica o movimento da entrada do que está fora. Ao contrário da expiração que traz o que está dentro para fora. As imagens do que vemos no mundo, fora de nós, repercutem simbolicamente nas profundezas da mente, repleta de símbolos. Por sua vez, essa memória ancestral e coletiva de significados se manifesta no mundo e se materializa, por meio das artes, na realidade. Como artista, o que sinto é que sou um mensageiro que traz das profundezas da memória coletiva signos e símbolos para a realidade. Quando o artista povoa a realidade com símbolos, eles tornam-se realidade, e novamente repercutem internamente, carregados de sentido. Nessa respiração permanente, percebo mais a expiração do que inspiração.

L.O. – Qual é a graça da intervenção artística na cidade?
J.P. Fazer arte nas ruas é um esporte radical cheio de adrenalina. Também é um exercício de cidadania e de humanização do nosso espaço comum. As ruas são o retrato do que somos coletivamente. Elas mostram nosso estágio como comunidade. É o “consciente coletivo” exposto, é a caverna a luz do dia. O “Homo urbanus” nas suas mega cidades repletas de inscrições. No lugar de bisontes, extraterrestres.

Em paz com a natureza urbana

Uma das experiências mais marcantes de 2009 foi participar junto com Jaime Prades e Afonso (o jardineiro) e muitos outros vizinhos, da transformação de um pequeno terreno baldio em uma pracinha. Prades já tinha demarcado o território com seus grafites e com a instalação Árvore das Perguntas, que teve suporte em um resistente chapéu-de-sol, plantado ali há onze anos.

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Pusemos a mão na massa durante meses, cavando o concreto e a terra, removendo entulho plantando e caprichando nesse espaço comum. Em mim, essa ação teve o efeito de uma reconciliação com a cidade e com o bairro. Quem ama cuida e quem cuida passa a amar. Simples assim. Esses beija-flores nasceram ali, em plena Apinajés, pura natureza urbana.

Para saber mais veja reportagem completa e álbum de fotos no site Planeta Sustentável.

Por: Liliane Oraggio

bloco de notas ocular

A exposição AIFONEPICS, de Lucas Lenci, que está em cartaz  na Galeria DConcept, apresenta 52 imagens feitas com celular.

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“Lucas torna realidade o velho sonho de todo fotógrafo: lançar mão de sua câmera num gesto rápido como se ela fosse um simples e prático bloquinho de notas. Ou pedacinhos de papel onde anotamos tudo aquilo que vimos e que não queremos ou podemos esquecer. ”

“Além da qualidade das imagens desta exposição, há aí uma outra possibilidade que Lucas nos anuncia. Com o avanço extraordinário da tecnologia digital, aproxima-se o dia em que as câmeras ou dispositivos fotográficos serão praticamente imperceptíveis. Poderemos registrar as imagens do mundo ao nosso redor num simples ‘piscar de olhos’ que, incrivelmente, deixará de ser apenas uma força de expressão. O que diria Joseph Nicéphore Nièpce autor da primeira fotografia há quase 200 anos a respeito de tamanha revolução?” Cristiano Mascaro.

Serviço:
EXPOSIÇÃO AIFONEPICS – Lucas Lenci
Em cartaz até 27/11/09 na DConcept: alameda Lorena 1257, tel. 11 3085-5006

pensamento mínimo

Outro dia tive um insight: o minimalismo vai voltar. Não como nos 90, claro, mas de jeito novo, talvez com foco nos tecidos com texturas. Quer apostar?

PS- É uma honra ter amigas inteligentes com a Cris Mesquita, que estuda moda e comportamento e deixa comentários tão relevantes que merecem ser mostrados a todos, e por isso, reproduzo aqui:

“Querida, tem um texto meu que termina assim: …Nesse contexto, não se deixar levar pelo império da expressão pela roupa, nem pela ditadura da diferenciação de si, muito menos pelo poder dos mundos inventados pelas grifes, pode causar incríveis sensações de alívio. E, certamente, essa sensação vai tomando forma e se anuncia, pouco a pouco, no panorama estético das tendências de comportamento mais antenadas. De vez em quando, liberdade mesmo é ser “qualquer”, é ser “algum”, anônimo, no meio da multidão.” Concordo contigo, total… bjs saudosos, Cris”

Fashion’s Night Out

fashion night

É hoje o Fashion’s Night Out, evento mundial organizado pela revista Vogue America para estimular o consumo. Em 13 países, simultaneamente, as lojas ficarão abertas até tarde, servindo coquetéis e mimando seus clientes com promoções especiais. A ideia, segundo consta, é de Anna Wintour, a diaba que não só veste Prada como quer que todo mundo vista também. E do chairman da Condé Nast Internacional, Jonathan Newhouse.

Nada como uma boa dose de álcool no sangue para fazer o pessoal abrir a carteira, esquecendo valores como o consumo consciente, não é mesmo?

 Deixando a racionalidade e a rabugice de lado, minha dica para quem passar pelo shopping Iguatemi, em São Paulo, é aliar luxo e solidariedade. A loja Maria Bonita promove o lançamento da linha de joias de Miriam Kimelblat, com peças de formas orgânicas que misturam chifre, madeira e couro, mais pedras preciosas, ouro e prata. 

miriam_kimelblat_para_Maria_Bonita

Além disso, a loja colocará à venda, em todas as suas lojas, bolsas desenhadas exclusivamente para a ocasião pela estilista Danielle Jensen e produzidas pela ONG Ofício Moda, com renda revertida à ACTC – Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração de São Paulo.

Fotos: Divulgação

Quem quiser saber mais sobre as promoções que vão rolar nas lojas pode dar uma olhada nesta matéria do site SPFW.

Première Vision no Brasil

De 15 a 18 de setembro, em Paris, acontece a Premiére Vision –principal feira têxtil do mundo– com os lançamentos de outono-inverno 2010/2011 de mais de 700 fabricantes de 28 países, para um público de cerca de 50 mil profissionais de moda, provenientes de todos os cantos do mundo.

Neste vídeo, feito em fevereiro deste ano, dá para sentir bem o clima efervescente dentro do pavilhão de exposições.

Duas novidades surgem nesta edição do Première Vision: o PV Awards,  uma premiação que pretende estimular a criatividade e a inovação no setor. E o anúncio, no site da ABEST, de que o Brasil sediará, em janeiro de 2010, uma versão do evento, com destaque para os fabricantes de denin. Sem dúvida, esta é uma boa notícia para o nosso mercado de moda.

sobre a impermanência

cerejeira-ED

Há alguns meses comecei a ler o TAO-TE-CHING,  texto escrito pelo sábio chinés Lao-Tsé, há cerca de 2600 anos.

O objetivo do TAO-TE-CHING -que significa Caminho Sábio- é refletir sobre a vida, entender os processos da Natureza e possibilitar o desenvolvimento da interioridade, o crescimento pessoal, o conhecimento de si mesmo, a busca do equilíbrio e da harmonia do ser humano com seus semelhantes e com as leis naturais.

Em momentos difíceis ou decisivos, costumo consultar o TAO, na versão de Roberto Otsu, que o traduziu diretamente do chinês, chegando a uma versão fidedigna e completa. Cada um dos 81 aforismos que compoem o texto original vem acompanhado de uma reflexão escrita por Otsu, para facilitar a compreensão das palavras de Lao-Tsé.

Gostaria de convidar aos que leêm este blog e, especialmente, aos amigos chegados, que compartilham comigo o momento de tristeza pela perda de uma amiga querida, a leitura do Aforismo 23.

“Conversas raras são o natural. Por essa razão, uma ventania não dura toda uma manhã; uma tempestade não dura todo um dia. Quem causa essas coisas? O Céu e a Terra. Nem o Céu e a Terra são capazes de durar, então muito menos os homens! Por essa razão, obedecer (as leis naturais) é tarefa para a pessoa do Caminho. A pessoa do Caminho é igual ao Caminho, a pessoa da Virtude é igual à Virtude. A pessoa de perdas é igual à perda. Àquele que é igual ao Caminho, o Caminho então lhe satisfaz a alegria. Àquele que é igual à virtude, a Virtude também lhe satisfaz a alegria. Àquele que é igual à perda. a perda também lhe satisfaz a alegria. Se a confiança não é suficiente, não existe confiança!”

Reflexão

“Nada dura para sempre. Tudo é impermanente. Toda situação é só uma transição, um momento. As coisas vem e vão. Como as flores a as frutas. Como as alegrias e os problemas. Como a ventania e a chuva.

Para o sábio, nada é um problema justamente porque tudo é impermanente. Quando acontecem coisas boas, ele agradece a oportunidade que a vida oferece, mas não se apega. Ele se encanta com a beleza das flores, mas sabe que a primavera não é para sempre. Quando acontece uma situação dolorida, ele também agradece a oportunidade que a vida oferece e procura aprender com a situação. Ele sabe que, na Natureza, quanto mais rigoroso for o inverno, mais doces serão as frutas.

Pensando bem, a qualidade do sábio não é a paciência. É a confiança! A confiança nos processos naturais da vida. Ele sabe como as coisas funcionam. Ele conhece a Natureza. Ele conhece o Caminho.” Roberto Otsu

Aqui tem o link do sumário do livro de Roberto Otsuo, para quem quiser saber mais sobre o texto sagrado.

O sonho das meninas

Hoje, a Folha de Sâo Paulo publicou uma matéria, no caderno Cotidiano, sobre pessoas que estão se passando por “olheiros” de agências de modelo, com a intenção de conseguir fotos sensuais de meninas aspirantes a esta profissão.

Esse tipo de golpe não é novo e nem incomum, só que, agora, ele acontece através da internet, incluindo ferramentas como emails falsos, conversas por MSN, e sugestão de nudez através de webcam. Alguns golpistas chegam a convidar as garotas para virem para São Paulo, como atesta a mãe de uma delas, que tinha concordado com a viagem, em nome do tal “sonho de ser modelo” da filha.

É claro que é preciso alertar as pessoas para que tomem muito cuidado com abordagens de caça-talentos, para que chequem a idoneidade das pessoas e das agências envolvidas. Mas não é só isso, é necessário atentar para esta outra  questão:  ser modelo virou a tábua de salvação, o sonho de consumo de um número enorme de adolescentes. E até de crianças.

Hoje, por coincidência, uma outra matéria jornalística falou sobre a fixação feminina em padrões de beleza e comportamento: o Profissão Repórter de Caco Barcelos, na Globo. O programa acompanhou 3 concursos:

Garota da Laje, que aconteceu em pleno Saara carioca (para quem não conhece, Saara é um bairro de comércio popular, tipo 25 de Março) e tinha como único pré-requisito… gostar de tomar sol na laje.

Mini Miss Brasil, em Santa Catarina, em que crianças a partir de 5 anos de idade competem como gente grande, com maquiagem, poses e sorrisos ensaiados (quem já viu o filme Pequena Miss Sunshine, já sabe a doideira que é) para serem coroadas por sua beleza

Concurso de Prendas, no Rio Grande do Sul, que escolhe a moça mais prendada em termos de tradições gaúchas. E neste caso, ora vejam, ela nem precisa ser bonita, mas tem que saber bordar, cantar e dançar músicas típicas. Uma donzela em pleno século 21.

O contraste entre os 3 concursos foi muito interessante e, sem dúvida, a grande sacada da matéria. Enquanto as  popozudas cariocas exibiam seus atributos sem pudor, as mães se realizavam através do sucesso das filhinhas, e a caravana de moçoilas vestidas com trajes típicos, treinava danças anacrônicas.

Os momentos mais marcantes (ou seriam aterrorizantes?), para mim, foram: a menina de 5 anos, quando questionada pela repórter se admirava de algum adulto, responde: a Gisele! Quem? A Gisele Bundchen! Sim, sem nem gaguejar no sobrenome! A cena em que uma outra garota, de 12 anos, chora depois de ter sido ameaçada com uma surra pela mãe de uma concorrente, por ter esbarrado nela. A popozuda indignada que vocifera para a câmera sua indignação por não ter ganho o prêmio: um automóvel usado, ano 2001. E  ela ainda desdenha da  ganhadora dizendo que tem carro zero!

No concurso de prendas, parece haver mais civilidade, escorrem lágrimas de decepção, mas de forma contida. Afinal, não fica bem para uma dama dos pampas sair dando escândalo em público. Uma das prendas desclassificadas, com silhueta mais roliça que as demais, se alegra pelo sucesso das amigas selecionadas como finalistas. Neste grupo, não há lugar para a rebeldia ou a inveja explícita.

Os fatos falam por si. A competição insana, a beleza como meio de ascenção social, e até a infalível coroação mostram que a fábula da Cinderela, da Gata Borralheira, continua viva no imaginário, nos livros, na televisão, e agora, é claro, nas páginas da web.

Acho até que vale a pena rever o filme da Dove que mostra a manipulação de imagem de uma modelo, aqui.