O sapatinho encantado de Anna Dello Russo

Anna dello Russo, a diretora de moda da Vogue Japão que anda causando no mundinho fashion por conta dos looks “absurdetes” com que se veste — a ponto de aparecer na capa da revista 10 e de participar do desfile da Lanvin para H&M– vai lançar seu primeiro perfume em dezembro. O mimo se chama Beyond e vem num frasco em forma de sapatinho dourado, feito com o mesmo vidro frágil dos enfeites de Natal. Ela explica por que:

I insisted that my entire PERFUME project be the stuff made of DREAMS…
EVANESCENT, GLASSY, FRAGILE.
For any DREAM to come true,
it must be guarded safely, treated with DELICACY,
handled with CARE.

A venda será feita a partir do dia 3 de dezembro, exclusivamente através do site Yoox. E o vídeo de divulgação do perfume já está no ar. Nele, a diretora-de-moda-tornada-celebridade aparece rodopiando em seu luxuoso apartamento, como uma espécie de Cinderela fashionista, usando vestidos Emilio Pucci e Roberto Cavalli, adereços de cabeça de Alan Journo, gargantilha e bracelete da Swarovski.

Quanto ao aroma do perfume… nada foi divulgado e parece que isso não interessa muito, afinal. Confira o vídeo a seguir e deixe sua opinião nos comentários.

Anúncio com foto do perfume lançado por Anna dello Russo em forma de sapatinho dourado

o perfume da violência

Só podia ser um projeto do SHOWstudio – mais do que um site, o SHOWstudio é uma arrojadíssima plataforma de mídia interativa, do fotógrafo inglês Nick Knight – criar uma fragrância baseada na química da violência e documentar todo esse processo na internet.

Para realizar a tarefa, Knight se uniu à perfumista norueguesa Sissel Tolaas cujo trabalho envolve pesquisas bem pouco convencionais. “Dois anos atrás, quando a conheci (…) ela já tinha trabalhado na criação de um aroma baseado no medo dos homens que inesperadamente provou ser afrodisíaco para algumas mulheres”, conta.

Como a ideia, agora, é isolar o odor da violência, a perfumista precisa coletar o suor de homens em situações de combate, quando o corpo excreta uma série de substâncias químicas. A última atualização do blog do SHOWstudio, feita no dia 03 de abril, mostra um vídeo com trechos de lutas de boxe do Ultimate Challenge UK . Posteriormente, no vestiário, vê-se uma pessoa da equipe secando o suor dos pugilistas com toalhas que são embaladas para serem enviadas para Sissel Tolaas.

skinheads1 - A testosterona e os skinheads, foto de Nick Knight
A testosterona e os skinheads, foto de Nick Knight

Vale a pena ler o texto de Nick Knight sobre o conceito do projeto. Lá, ele conta como tudo começou (e a história remete ao seu início de carreira, quando fotografava skinheads),  que todo o processo será divulgado no site com transparência, uma vez que eventuais falhas fazem parte do processo, e se diz ciente das questões morais que o tema desperta, optando por não se desviar dele e sim, encará-lo de frente. É isso aí Nick, respira fundo e vai! Estamos curiosíssimos para sentir o verdadeiro odor da violência.

O jornal The Independant publicou uma matéria bem interessante, intitulada “Skinhead violence to fish markets – radical perfumiers are founding inspiration in the oddest places”, em que Bethan Cole fala sobre o projeto de “Violence” e de outros perfumes radicalmente inovadores.

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Em oposição aos aromas florais, Rei Kawakubo criou um odor abstrato

Vale lembrar que o precursor deles, lançado em 1998, foi Odeur 53 da Comme des Garçons, um aroma totalmente sintético criado à partir de conceitos abstratos como o frescor do oxigênio, pedras em brasa e dunas de areia, entre outras esquisitices.

Dez anos se passaram até algo realmente novo surgisse no reino da perfumaria. Em outubro de 2008, apareceu “Wode”, o perfume da marca Boudicca que inclui em sua composição notas de ópio e cicuta (planta cujo veneno é letal) . Além desses ingredientes que remetem à transgressão, ao ilícito e ao perigo,”Wode” ainda tem o mérito de ser o primeiro aroma colorido do mercado. Ele contém um pigmento azul cobalto que tinge a pele quando borrifado, mas desaparece alguns segundos depois, sem deixar traço.

“A tinta dissolve através de combinações químicas – é a mágica da ciência”, dizem os designers da Boudicca, Brian Lirby e Zoe Broach, em entrevista para o Independent. As marcas de tinta carregariam também associações simbólicas com valores como “bravura, coragem, status, fertilidade e heroísmo”, completam.

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Wode, da Boudicca, aroma e cor radicais. Foto: Justin Smith/ Image Source

O fato é que iniciativas inovadoras, como as de Nick Knight, Comme des Garçon e Boudicca e  são raras e o texto de Cole é claro quanto ao motivo: “ as marcas de moda que dominam a perfumaria geralmente são os monolitos corporativos”.

Como excessão à regra ele cita o projeto Six Scents da Seven New York (loja multimarcas que vende marcas como Cassette Playa, Gareth Pugh e Bruno Pieters) que “sob a curadoria de Joseph Quartana, possibilitou que nomes cults como Gareth Pugh, Bernhard Wilhelm, Preen e Alexandre Herchcovitch colaborassem com ‘narizes’ inovadores para criar seus próprios perfumes”. O resultado, seis frascos com aromas desenvolvidos por estilistas e perfumistas de vanguarda foi comercializado em pontos de venda selecionados da Europa, EUA, Asia e Austrália, com parte da renda revertida para a fundação Designers Against AIDS (DAA).