outro viés

Adorei a entrevista do Vitor Angelo com o Nelson Leirner, hoje, na Folha de São Paulo. Desde sempre gosto dessa ideia de convidar outsiders para comentar assuntos alheios ao seu universo habitual. Neste caso, um grande nome das artes plásticas “olhando” para os desfiles de moda. Nada como uma uma visão “fora do quadrado” para iluminar novos ângulos, coisas que passam batido por quem é do meio e está com o olhar viciado.

Para aqueles que não tem acesso ao jornal, reproduzo aqui.

“Osklen pensa no show; Maria Bonita, na pessoa”, diz Leirner

VITOR ANGELO  – COLUNISTA DA FOLHA

Um dos principais artistas plásticos brasileiros, Nelson Leirner, 78, faz amanhã, às 10h30, no auditório Museu de Arte Moderna, uma palestra sobre arte e moda. Leirner compareceu duas vezes a desfiles da SPFW. A primeira, para ver a apresentação da Osklen, no domingo. Ontem, para assistir à da Maria Bonita, inspirada na arquiteta Lina Bo Bardi.

Nos anos 60, o artista fundou o Grupo Rex junto com Wesley Duke Lee e Geraldo de Barros. Eles divulgaram o “happening” no país e propagaram uma atitude irreverente e crítica em relação ao sistema das artes. Procurando sempre novas formas de expressão, Leirner não poderia deixar de incorporar a roupa ao seu arsenal criativo. Criou peças para a Rhodia que estão no Masp, dentro da coleção “roupa de artista”, e desenhou para o Carnaval, nos anos 70, um look batizado de “stripper em cores”, cheio de zíperes que podem ser abertos enquanto a pessoa dança. No ano passado, realizou para o Museu do Vale uma intervenção, “Vestidas de Branco”, só com vestidos de noiva de segunda mão. “Para quem quer fazer uma crítica ao consumismo, a moda é um excelente material”, diz Leirner a seguir.

FOLHA – O que você achou dos desfiles da Osklen e da Maria Bonita?
NELSON LEIRNER – Oskar Metsavaht conseguiu alcançar um status de arte ao transformar a roupa em forma escultórica. O próprio feltro modifica totalmente o corpo em escultura. O volume que você pode adquirir com o feltro é diferente do que com a seda, que é mole, porque ele é rígido e difícil de usar. A Maria Bonita captou a Lina [Bo Bardi] arquiteta, não a Lina ligada à arte popular. Gostei dos geometrismos, dos espaços vazados, das sobreposições, que me lembram [Lucio] Fontana [artista plástico]. Existe o estilista do show e o que pensa na pessoa, como a Daniela [Jensen, estilista da Maria Bonita]

FOLHA – Oskar Metsavaht foi o estilista do show?
LEIRNER – Ele pensa mais no conceito, no show, não na roupa humanizada. Já a Daniela pensa no outro, na pessoa. Não acho nem melhor nem pior.

FOLHA – A moda pode ser arte?
LEIRNER – Desde que Duchamp se apropriou de um mictório e o colocou numa exposição, tudo pode ser arte. A moda é muito relacionada ao consumo. Para quem quer fazer crítica ao consumismo, ela é um excelente material.

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E a palestra de Nelson Leirner acontece no ZigueZague, no MAM de São Paulo, com a curadoria de Cristiane Mesquita. Não sei se ainda existem vagas para as atividades… Tenta lá!

ilha do tesouro

Mais conhecidas pelo trabalho como pesquisadoras de moda, Cristiane Mesquita e Thais Graciotti acabam de zarpar rumo a uma nova aventura: a criação de uma marca chamada ILHA.

Por definição, uma ilha é um pedaço de terra cercado de água por todos os lados. No caso das mentes criativas dessa dupla, a ILHA é a rota de fuga do lugar comum, um espaço em que as coisas mais simples do cotidiano se transformam em objetos de desejo.

Carimbos viram acessórios temporários, sobre a pele. Pregadores de roupa espalham palavras ao sol. Espelhos refletem a esperança de um porto seguro. Camisetas mapeiam frases estratégicas. Bloquinhos de papel são pequenas bússolas para nosso dia-a-dia. Embarque nesta viagem! Para saber onde encontrar este pequenos tesouros, sofisticados em termos de ideias, mas acessíveis para o bolso, clique aqui.

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Moda e desejo

Sabe-se que muitos intelectuais costumam relegar a moda ao domínio da futilidade mundana. Por isso, fiquei feliz e surpresa ao ler hoje de manhã, na Folha de São Paulo,  que o poeta concretista Décio Pignatari considera que, atualmente, a vanguarda brasileira acontece na moda.

Mas o que pode ser considerado como vanguarda e arte, na moda? Certamente é uma pequena fração, uma porção minúscula do mercado. E nem poderia ser diferente, pois como diz Pignatari: “não existe vanguarda majoritária. O signo novo não pode ser majoritário. O novo põe em questão o que foi feito antes.”

O jornalista (e colega de BlogView) Vitor Angelo escreveu ontem uma matéria sobre este assunto, citando uma definição de James Joyce que categoriza a arte como pornográfica ou transcendente. Leia, aqui.

Para ilustrar, ele postou este vídeo do inesquecível desfile de Jum Nakao.