Passeio pelo SPFW

Conheci o fotógrafo Ricardo Toscani ao visitar um evento coordenado por Jum Nakao, com a participação das estilistas Fernanda Yamamoto e Agustina Comas, a propósito do lançamento dos tecidos K-Generation da Doutex. Além de uma coleção pocket feita com os novos materiais, havia uma instalação com fotos interessantes, feitas por ele, e desde então, tenho procurado acompanhar o seu trabalho.

Nesta edição do SPFW, apesar da correria profissional, o fotógrafo conseguiu captar imagens bem bacanas, que nos levam para um passeio colorido através de uma Bienal fashionista.

Clique nas imagens para ampliá-las e bon voyage! Para fazer o tour completo, visite o site do Ricardo Toscani!

espalhando arte e inovação

Já conhece o The Creators Project? É uma ideia muito bacana que pretende, segundo a definição de seus criadores, “celebrar a criatividade e a cultura entre os meios de comunicação ao redor do mundo. O Projeto surge em um momento da história da arte em que as tecnologias digitais têm revolucionado a distribuição, democratizado o acesso e reimaginado o escopo e a escala com que cada artista pode idealizar uma visão e alcançar um público. The Creators Project é um de canal de artes e cultura completamente inovador desenvolvido para um mundo completamente novo”.

Conteúdos impressos e digitais serão distribuídos através do site, de exposições, debates e instalações em vários centros urbanos ao redor do mundo, a partir de junho. A primeira cidade a receber o projeto será Nova York, e em seguida virão Londres, São Paulo e Seul, culminando com um enorme evento em Pequim, em setembro.

Atualmente, o site mostra, entre outras coisas, um vídeo bem legal com Muti Raldolph, artista multimídia que já fez a curadoria do espaço da Bienal durante o SPFW (foto acima), criou cenários memoráveis para desfiles (como uma enorme onda tridimensional, feita de isopor fatiado) e  idealizou o D Edge, um dos clubes noturnos mais interessantes do país.

Outros artistas que  já foram entrevistados pelo Creators Project são: o DJ e produtor Diplo, o músico chinês Sulumi, a banda francesa Phoenix. Mas muitos outros já estão programados: Jum Nakao, Mixhell, Alexandre Herchcovitch, Spike Jonze, Mark Ronson… A lista é longa. Espia lá que vale a visita!

Bonequinha de luxo

Genial a ideia da revista canadense THEBLOCK de fazer um editorial de moda só com bonecas de pano. A tarefa ficou a cargo do bonequeiro Andrew Yang que recriou os looks da coleção Primavera-Verão 2010 de grifes como Lanvin, Marc Jacobs, Rick Owens, e Ann Demeulemeester. As imagens são de Dan Forbes.

Além de aceitar encomendas personalizadas, como a da revista, o artista desenvolve regularmente uma linha de bonecas chamada Kouklitas – palavra em grego que significa “bonequinhas”. Todas elas tem rostos pintados à mão, histórias pessoais e roupas confeccionadas com tecidos de qualidade e técnicas de alta-costura. Afinal, Yang é formado em moda e trabalhou como assistente de estilo por alguns anos, em Nova York.

Se você estiver babando por uma kouklita, considere a hipótese de desembolsar, no mínimo, uns 800 dólares. Prova de que roupas de luxo custam os olhos da cara, qualquer que seja a escala de tamanho!

Isso me fez lembrar que o estilista Jum Nakao fez algo similar em seu catálogo de Primavera-Verão 2003/2004. A diferença é que ele usou bonecas de metal, fotografadas em maquetes meticulosamente construídas. O catálogo, em formato de um livro antigo, guardava no seu interior 15 lâminas de papel, como esta que você abaixo. Um dos meus tesouros!

Catálogo do estilista Jum Nakao, fotografado por Sandra Bordim

Foto: Sandra Bordim

(via Tavi)

cocar nobre

Jum Nakao é um criador conhecido pela consistência do trabalho que desenvolve na moda, na arte e no design. O que muita gente não sabe é que ele tem também uma grande preocupação com o meio-ambiente e o consumo responsável.

A convite do Projeto Floresta Móbile, que envolve arquitetos e designers que acreditam no conceito da humanização da produção, Jum desenvolveu uma luminária feita de restos de madeira e pedaços de vidro, batizada de COCAR. A peça, que é iluminada por LEDS e alimentada por energia solar, foi exposta no último Salão do Móvel de Milão, em abril deste ano.

“O conceito da linha COCAR parte do mesmo princípio de construção dos cocares indígenas, ordenar plumas dispersas numa ordem estética e conferir valor humano ao descartado,” diz.

A luminária é produzida no Nordeste, numa região em que a população carente, por falta de opções de subsistência, queima grandes quantidades de madeira para produzir carvão. A ideia do projeto é que, através do reaproveitamento das sobras de madeira, se promova a reciclagem e a inserção social dessas comunidades de forma construtiva e não destrutiva.

A luminária COCAR de Jum Nakao / Foto: divulgação
A luminária COCAR de Jum Nakao / Foto: divulgação

Como decorrência da participação na feira italiana, o Projeto Floresta Móbile recebeu da Prefeitura de Milão o título de empresa de design mais inovadora. As universidades de Rotterdam e de Budapeste consideraram o projeto como o mais sustentável e inovador, na área de design.  

“Não importa se o objeto é feito de uma matéria simples como uma folha de papel, importa o invisível, o conteúdo, o pensamento, porquê e como é feito. Num momento tão high tech nos esquecemos do processo; importa apenas a velocidade, o tempo. Nos esquecemos que o tempo tudo corrói e vivemos a falta de espessura. É necessário resgatar o tempo e olhar humanos,” conclui Nakao.

Ficha técnica
Coordenação: Robson Oliveira
Direção Criativa: Jum Nakao
Direção de Desenvolvimento: Augusto Puig.

passado de papel

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 Não deixe de ver a exposição Papiers à la Mode, que está em cartaz na Faap e apresenta uma série de réplicas de trajes históricos feitos de papel, em tamanho natural.  

A exposição –cuja autoria é da artista belga Isabelle de Borchgrave, com colaboração da figurinista canadense especializada em ópera, Rita Brown já passou pelo Victoria & Albert Museum, em Londres e pelo Fashion Institute of Technology, em Nova York. 

Usando apenas tintas, dois tipos de papel e a técnica de tromp l’oeil, Isabelle reproduz com perfeição tecidos, bordados e estampas de vestes históricas. Já Rita Brown  é responsável por dar forma tridimensional às peças.

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O resultado é tão próximo da realidade que, à primeira vista, tem-se a impressão de que o intuito é meramente fazer um tour pela história da moda. Mas é bem mais do que isso. Nestas pinturas transformadas em esculturas, aparecem questões sobre a passagem do tempo, o envelhecimento do tecido, a transitoriedade do papel, a impermanência da moda, entre outras.

Como diz o texto de Denise Pollini, no catálogo da exposição: “ao recriar modelos significativos da história da moda no papel, retirando, como a própria Isabelle afirma, a morbidez da memória do corpo que os habitou e a lembrança da perda, ela retira também o aspecto frenético da moda e nos apresenta a possibilidade da contemplação. (…)

Como se pudéssemos parar por um instante o carrossel delirante da moda e, na superfície, dar-nos a conhecer o vestido abajur de Poiret, as múltiplas cores de seda plissada de Fortuny, a sutileza de um padrão, de um dobra”.

“Ao recriar um modelo, Isabelle nos apresenta a verdade secreta presa à superfície, à espera de um olhar atento para revelar-se.”

De fato, a superfície não deve ser desprezada, pois ela é capaz de nos revelar uma infinidade de coisas. Aqui, vale lembrar a célebre frase de Oscar Wilde: “Somente as pessoas superficiais não julgam pelas aparências. O mistério do mundo está no visível, não no invisível.” 

É impossível não lembrar, também, do projeto “A Costura do Invisível” do estilista Jum Nakao que colocou na passarela, em pleno São Paulo Fashion Week, uma série deslumbrante de vestidos confeccionados em papel vegetal. No final do desfile, foram todos propositalmente rasgados e destruídos pelas modelos, diante de uma platéia atônita.

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(à esq. vestido de Jum Nakao, à dir. obra de Isabelle de Borchgrave, ambos de papel)

Apesar de serem duas obras muito distintas, elas se relacionam de maneira  interessante, não? Enquanto Isabelle recria o passado com precisão, Jum Nakao o reinterpreta perfurando a superfície do papel e estilizando as modelagens de época. A artista belga quer que suas peças perpetuem a beleza dos trajes antigos para além do seu passado; o brasileiro as constrói já destinadas a serem efêmeras. Isabelle enaltece o sistema da moda, Nakao o critica e parte para o rompimento.

Voltando à exposição Papiers à la Mode, quem quiser brincar de fazer vestidos de papel ou levar para casa um pouco do universo da artista, pode conferir o mimo, exclusivíssimo, à venda na lojinha do museu da Faap. Eu fiquei babando por essa pequena jóia, o “Atelier de Papier” de Isabelle de Borchgrave.

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As informações a seguir foram enviadas pela assessoria de imprensa:

 Trata-se de uma charmosa caixinha (40cm por 22cm) construída artesanalmente, recheada de gavetas e compartimentos revestidos com papéis pintados a mão pela própria artista. Em seu interior, há também um manequim, dois delicados vestidos em miniatura, stencils, manual de instruções e todo material necessário para que se faça em casa dois modelitos do século XIX: uma jaqueta masculina e um vestido de festa.

As caixinhas fazem parte de uma edição limitada criada especialmente para a exposição no Brasil. São apenas 30 unidades numeradas e assinadas pela artista que serão vendidas na loja da FAAP. (Preço sob consulta)”.

Exposição Papiers à la Mode 

Data: De 12 de Outubro a 14 de Dezembro de 2008
Horários: de 3ª a 6ª feira, das 10h00 às 20h00.
Sábados, Domingos e Feriados, das 13h00 às 17h00.
Local: Museu de Arte Brasileira da FAAP
Endreço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
01242-902 São Paulo SP
Tel: 55 11 3662-7198

(fotos: Divulgação)