O BOOK DO DIA é “História da Moda” de Marco Sabino, 415 págs. com fotos coloridas, editora Campus – Elsevier, à venda por R$ 150 no site da Livraria Cultura.
Marco Sabino é médico de formação, designer de acessórios por convicção e estudioso de moda por devoção. Neste volume, elaborado durante 2 anos de dedicação e pesquisa, o autor conduz os leitores pela história da moda, da pré-história até o século 20. E o faz com um texto fluente, rico de informações e sem afetação.
Logo na introdução do livro, disseca a necessidade humana de modificar a própria aparência –através de vestimentas, tatuagens, pinturas e adornos, entre outros recursos– para ostentar poder, seduzir, ou por simples prazer estético.
Por 150 anos, o terno foi o traje do homem de negócios que se preza. Mas, e na era dos ambientes de trabalho criativos e do home office, há futuro para o bom e velho costume?
Este foi o ponto de partida para a matéria que escrevi para a Época Negócios deste mês (março de 2011), a convite do diretor da revista, Nelson Blecher. Confira a seguir!
Símbolo de poder, força, sobriedade, elegância e virilidade, o terno é capaz de inspirar confiança e definir o lugar em que o homem se encaixa na sociedade. Padres, médicos, juízes e outras autoridades têm usado vestimentas escuras e camisas brancas para inspirar lisura e impor respeito há pelo menos 150 anos. Durante muito tempo, pouca coisa mudou na estrutura da roupa de trabalho masculina, composta por paletó, colete e calça, feitos do mesmo tecido. Aliás, é bom lembrar que a palavra “terno” refere-se a este trio; quando não há colete, a palavra correta é costume. Desde a revolução industrial, nos séculos 18 e 19, até os anos 80, no apogeu da cultura yuppie, era impensável que empresários importantes recebessem clientes em mangas de camisa.
Não há dúvida de que a mudança da cultura corporativa que vem acontecendo nas últimas três décadas – que tem como tônica valorizar a inovação e a informalidade em oposição à tradição e ao formalismo – abriu espaço para um novo código de vestuário. A uniformidade dos ternos sóbrios tem perdido espaço para visuais mais lúdicos e criativos. Em certa medida, pode-se dizer que essa possibilidade de personalização por meio do vestuário sinaliza o triunfo do indivíduo sobre a corporação. Isso vai ao encontro das vivências da Geração Y, que… (Quer continuar lendo? Compre a revista na banca mais próxima ou acesse o site da revista ).
CONTEÚDO EXTRA – EXCLUSIVO
Leia, abaixo, a entrevista com Paolo Ferrarini, consultor sênior que trabalha com estéticas emergentes e comportamentos digitais, e conduz projetos de pesquisas em áreas como moda, tecnologia, comunicação e varejo, no Future Concept Lab, em Milão, na Itália.
Como a chegada das novas gerações ao poder irá influenciar o traje corporativo? Haverá espaço para mudanças radicais nos próximos 10 ou 15 anos? A formalidade será abrandada, ou mesmo substituída por outros valores?
Paolo Ferrarini: Não haverão mudanças radicais, mas sim um trabalho cada vez mais intenso nos detalhes de confecção e suas particularidades de estilos. Um bom exemplo, que já podemos ver hoje, está no estilo presente em revistas cult para os globetrotters, como a Monocle. Não estamos diante de códigos uniformes e internacionais, mas altamente pessoais, que tendem a uma roupa única, personalizada!
Pode-se dizer que alguns itens, como a gravata e a camisa social, estão com os dias contados?
PF: Absolutamente não. Estas serão as maiores áreas de experimentação e busca de personalização.
A ascensão das mulheres aos altos cargos corporativos levou-as a copiar o traje masculino, adotando ternos e tailleurs como vestimenta no trabalho. Existirá espaço, no futuro, para uma feminização dos trajes? Ou a feminilidade ainda tende a ser vista como antagônica ao profissionalismo?
PF: A fusão dos gêneros ainda não aconteceu totalmente e não acontecerá no futuro próximo: o cuidado e a atenção que dispensamos ao nosso corpo é semelhante para o homem e a mulher, mas está levando a acentuar as nossas singularidades. O mesmo acontecerá nas roupas de trabalho: as diferenças de gênero serão elementos de distinção e irão sublinhar os respectivos pontos de força. Estamos agora muito distantes da working girl dos anos 80, que procurava imitar o homem para reinvidicar o seu papel social. Mas ainda estamos distantes do metrosexual, de um homem que quer a todo custo mostrar-se doce e sensível.
Sabia que a alta costura francesa é protegida por leis? Que essas leis foram criadas em 1945, ao término da Segunda Guerra Mundial, quando Hitler tentou transferir a sede da alta costura para Berlim e Viena? E que para usar a denominação haute couture é preciso cumprir uma série de pré-requisitos e conseguir aprovação da comissão do Ministério da Indústria?
Curiosa a reportagem publicada hoje na coluna da Mônica Bergamo, sobre Madame Marie Rucki na 25 de Março. Mostra bem algumas facetas do universo fashion made in Brazil. E me lembrou que tenho ainda algum material para postar, extraído das conferências com ela.
Falando sobre o preço elevado das roupas: “Me disseram que no Brasil as roupas são muito caras. Bom, é preciso dizer que a moda precisa do sonho. Aquela roupa maravilhosa, cujo preço é 3 vêzes o valor do seu salário, custa caro por muitos motivos, pela qualidade, pelo tecido, pelo acabamento. Então você precisa economizar para tê-la.”
“O gosto é uma característica que pode ser desenvolvida, como a inteligência.”
“Não há explicação para a genialidade dos criadores e é isso que é realmente fascinante.”
“As pessoas, quanto mais criativas, mais precisam trabalhar para saciar sua mente.”
“É preciso estudar os ciclos de criação. Nos séculos 18 e 19 há uma evolução dos volumes, dos vestidos retos até aqueles com crinolinas, mas não há uma verdadeira criação. No início do século 20 aparecem Poiret, Chanel e Balenciaga…”
“Com Poiret surgiu o conceito de estilista como conhecemos hoje. Ele era um criador intuitivo, descartou os corseletes da Belle Epoque e inventou a silhueta solta, inspirada no período do Diretório, usando tecidos orientais Chanel, por sua vez, tinha uma expressão oposta a Poiret. Ela democratizou a moda optando pela simplicidade, pelo pretinho básico. Também disseminou o uso do tailleur, concebido como uma versão feminina do terno dos homens. Era um traje pensado para corresponder às novas atividades da mulher, depois da Segunda Guerra Mundial, e levava em conta o espírito da época, como a crescente velocidade e os deslocamentos aéreos. Mas ela não inventou uma roupa.”
“Já Balenciaga foi um inventor. Ele criou, do ponto de vista técnico, o vestido chemisier. Sua roupa tem relação com a arquitetura da época (anos 50), por sua característica abstrata.” Veja foto abaixo.
“Nos anos 50, o jeans é introduzido na moda, graças a filmes com Marlon Brando e James Dean. Perceba que o fenômeno da celebridade influenciando a moda, já estava acontecendo aqui. Nos anos 60 surge a minissaia, uma grande revolução em termos estéticos, em sintonia com o que acontecia na sociedade, como a liberação sexual, a pílula, etc. Nos anos 70, a conseqüência natural é o movimento hippie. Nos anos 80, os japoneses, como Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto, vêm mostrar que roupas despedaçadas podem ter elegância. O trabalho de Kawakubo acompanha o trabalho da coreógrafa Pina Bausch, que vê o mundo de forma explosiva e caótica.” Abaixo, foto do desfile de Kawakubo, outono de 1999.
“Viktor & Rolf usam a moda para se expressar, mas não seguem as regras da criação da moda. São como artistas de circo. Inovar seguindo as regras das vestimentas é muito mais difícil e mais importante. O trabalho deles se insere no terreno da performance artística.”
“A moda é uma deusa muda que se afasta quando nos aproximamos dela.”
Todas as citações são de Marie Rucki, extraídas das conferências feitas no Brasil.
Confira também a entrevista feita com Marie Rucki pela SPFW TV.