Portfólio #6 Popó

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A ideia deste portifólio surgiu durante o último Senac Moda Informação, evento de moda do qual tive o prazer de participar, no início do mês, e até já rendeu dois posts, aqui e ali.

No dia do evento, a área destinada às palestras de street style tinha recebido um tratamento especial: as paredes foram grafitadas e vários pares de tênis customizados estavam pendurados pelo espaço. Como adoro grafite, fui procurar saber quem tinha feito aquele mural, e logo me apresentaram o Vinicius, mais conhecido como Popó. Engatamos num ótimo papo sobre street art, customização, arte barroca, e etc… Confira logo abaixo!

Clique nas imagens da galeria para ampliá-las

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O grafiteiro de 28 anos, que aparenta bem menos, me contou que começou a fazer arte na rua com cartaz lambe-lambe. “Pegava os papéis das bancas de jornal, desenhava e grudava com cola de farinha, que era mais em conta.”

Isso acontecia em Guarulhos, lugar onde nasceu. “Eu ia pra rua com um amigo, o Jimmy (JDUBS), e como meus desenhos estavam ficando cada vez maiores e havia a dificuldade de colar (porque eu sempre queria colar no alto para se ver melhor), o Jimmy sugeriu, meio irritado: ‘porra, porque você não pinta na parede, logo?’ Desde então fui aprendendo a mexer com o spray.”

Quais foram suas primeiras referências?
“Veio tudo de Guarulhos, dos amigos que já grafitavam há  um bom tempo, coisa de 1995 pra cá. A Crew PINEL, CO2, Cubano, Merpol. Depois que mudei pra São Paulo vi uns lambe-lambes do ONESTO e do CIRO, em 2001. Fui pra rua colar meus primeiros desenhos com o Alemão (EUCONTRAEU) e um amigo de Buenos Aires, o Santiago. Nessa época desenhávamos à noite, saíamos pra colar só voltávamos quando o dia começava a clarear.”

Acha que já definiu seu próprio estilo ou ele ainda está se desenvolvendo?
“Tenho várias ideias e conheço diversas técnicas, mas ainda preciso aprimorar muito mais o meu estilo. Tenho alguns desenhos, na rua e em quadros, que ficam mais marcados, como o “P” do Popó que é um grapixo e os meus quadros com referências de santas estilizadas. É que trabalho com restauração de obras de arte, e as santas barrocas me influenciaram”.

Qual seu maior desejo, profissionalmente?
“Não sou formado em nada, já tive todo tipo de trabalho, desde fazer filmagem de parto até vender marmitas vegetarianas na Galeria do Rock. Já pastei muito nesta vida, mas tudo isso me deu bagagem para ser o que sou hoje. Hoje em dia trabalho com restauração de obras de arte e esse é o meu ganha-pão. Gosto do que faço mas preferiaria produzir e restaurar a minha própria arte.”

Uma parte dessa arte pode ser conferida no blog de Popó na MTV, o UPGRADE. Lá, ele mostra a expertise em trabalhos de customização e ainda dá dicas preciosas para quem quiser se aventurar a enfiar o pé na tinta. Eu achei bem legal o vídeo deste post, em que ele mostra a customização de um tênis com desenho de cupcake, para uma garota. Vale a pena ver!

OBS> A seção Portfólio é um espaço aberto para a divulgação de novos talentos e/ou trabalhos inéditos de autores já consagrados. Se você se encaixa numa dessas categorias, ou gostaria de indicar alguém, envie um email para modasemfrescura@gmail.com

Zezão – O explorador do esgoto

O trabalho do grafiteiro Zezão é o tema central do filme “No Traço do Invisível”, das diretoras Laura Faerman e Marília Scharlach, apresentado em 19/05/2007 no Resfest em São Paulo.

Na abertura do Resfest, Laura Faerman e Marília Scharlach, diretoras do filme “No Traço do Invisível” subiram ao palco e agradeceram à equipe de filmagem, por ter entrado “naquela buraqueira”. O que as imagens mostram, logo a seguir, é mesmo uma buraqueira infernal, composta pelas galerias de esgoto do rio Tietê, pelo piscinão do Pacaembú e outros lugares para lá de trash, que o grafiteiro Zezão elege como suporte para sua arte.

Ver Zezão se embrenhar na imundície dos túneis causa, logo de cara, um certo incômodo visual e levanta algumas questões importantes. Por que uma pessoa se embrenha na rede de esgoto para grafitar onde ninguém vê? É um discurso social, é transgressão, é o quê?

Queremos tanto esquecer da parte feia da cidade, dos seus subterrâneos sujos, das suas áreas degradadas e decadentes. E no entanto, lá vai Zezão, sozinho pelos túneis, como um arqueólogo do lixo, deixando sua marca, suas belas formas fluidas e orgânicas, sempre em dois tons de azul. Para quê e para quem?

O arquiteto Paulo Mendes da Rocha e o galerista Baixo Ribeiro (da Choque Cultural) analisam o trabalho do grafiteiro, falam do horror da decadência urbana, da impossibilidade de revitalizar as áreas mortas, da falha da civilização em criar e manter as cidades.

Não fica claro, no filme, o quanto estas reflexões fazem parte da intenção do artista, e isso deve ser entendido como uma qualidade e não uma falha. Zezão escala paredes, se equilibra em muros altos, pula em terrenos baldios, invade trilhos de trem, arromba portas em prédios abandonados. Suas ações falam por si. A câmera que o segue, cúmplice, espiona aquele mundo estranho e apocalíptico que não queremos ver. E termina por mostrar uma beleza às avessas, feita de avenidas sinuosas, curvas de rio, galerias subterrâneas. Vista do alto, a cidade se parece com os traços de Zezão.

O filme “No Traço do Invisível” está disponível no Youtube. Confere lá! 

Para ver mais imagens das obras de Zezão, no Flickr do artista, clique aqui.