Beleza aprisionada

Tempos atrás, fiz um post sobre a questão dos padrões estéticos femininos, que falava também dos concursos de beleza de mini miss, muito populares na America do Norte. Pois é exatamente este o tema da exposição “Hight Glitz, The Extravagant World of Child Beauty Pageants” da fotógrafa Susan Anderson, em cartaz na Kopeikin Gallery, em Los Angeles.

As imagens são impactantes: crianças aprisionadas em cascatas de cachos, congeladas em sorrisos e poses pré-moldados. Caricaturas miniaturizadas de um sonho distorcido de beleza artificial, onde não há lugar para o espontâneo, para o imprevisto, para a ingenuidade. Essas meninas parecem aves bizarras, empalhadas, laqueadas.

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(via blog da Cavalera)

a diversão e o tédio

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“O tédio é um tecido cinzento e quente, revestido por dentro com a seda das cores mais variadas e vibrantes. Nele nós nos enrolamos enquanto sonhamos”. (Walter Benjamin, filósofo)

Este sentimento, também conhecido como enfado, aborrecimento ou fastio, é o tema da primeira exposição individual de Oliver Quinto –amigo querido e ex-colega de trabalho, da época em que fui de editora de moda da revista Marie Claire– que será inaugurada amanhã, na Coletivo Galeria.

Lá, além das aquarelas, uma instalação vai mostrar os inúmeros significados do tédio, segundo o autor e os retratados. Como o tema é pouco usual, telefono para perguntar a Oliver o por quê da escolha. A resposta é desconcertante: “porque as pessoas passam a maior parte da vida sentindo tédio, ou suas variações”.

Argumento que é uma resposta… um tanto blasé (termo que designa uma versão esnobe de tédio). “Você precisa de uma resposta mais inteligente? Posso procurar alguma no Google”, diz Oliver, com o humor peculiar que conheço bem. Rimos  e concordamos que isso só seria necessário caso eu também fosse procurar por perguntas inteligentes. No Google, é claro.

Seja para espantar o seu próprio tédio ou confrontar o alheio, apareça na vernissage.

Exposição: “O Tédio Segundo Oliver Quinto”
Local: Coletivo Galeria – Rua dos Pinheiros, 493 – Pinheiros – SP- tel. (11) 3083-6478
Abertura dia 8 de julho de 2009, às 19:30
Funcionamento: de terça a sexta das 15 às 20 hs, sábado das 14 às 19hs

Mas se o seu tédio for causado pelo trabalho, tenho ainda uma outra dica: compre o  “Caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho”, de Claire Fay. Em formato brochura, ele contém desenhos e atividades que irão confortá-lo durante reuniões insuportáveis e outros eventos chatíssimos e estressantes. Quer alguns exemplos? Lá, você pode desenhar a vaca indo para o brejo, colorir o sapo que você acabou de engolir, ou encher aquele colega “mala” com tachinhas, entre outras opções lúdicas e desopilantes.

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Acima, a capa do “Caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho”, de Claire Fay. À venda na Livraria Cultura por cerca de R$ 15, com direito a risada grátis.

choque elétrico

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Neste sábado, 4 de junho, às 16 horas, rola a abertura da exposição Coletiva Choque 2009, com obras dos artistas Zezão, Jaca (autor da obra acima), Carla Barth, Presto, Daniel Melim, Adam Wallacavage, Jeff Soto, Gachaco, Titi Freak e Yumi Takatsuka.

De acordo com o texto de divulgação do evento, escrito por Larissa Marques, o denominador comum entre os participantes é a “evolução do trabalho, tanto em conceito, quanto em qualidade de pintura. Baixo Ribeiro, sócio-proprietário da galeria, diz que “todos os artistas da Choque Cultural estão buscando ‘passar de fase’, subir um degrau. Eles tem estudado e experimentado como nunca, procurando o aprofundamento técnico e um trabalho mais consistente”.

Ainda segundo o press release:

Para esta exposição, Daniel Melim vai fazer uma instalação no porão da galeria, com as paredes pintadas, além de suas obras, como o que apresentou durante a quinta edição da SP-Arte, em maio deste ano. Daniel Melim é um expoente da stencil art, conhecido por seu trabalho no Jardim Limpão, em São Bernardo do Campo, onde pinta a fachada das casas, colore os becos e vielas.


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Zezão (autor da obra acima e já citado num post por causa do filme “No Traço do Invisível”, que foi exibido no Resfest), que é um dos artistas mais antigos da Choque Cultural, mostra a sua nova fase com trabalhos de colagem. Zezão também é conhecido por suas intervenções em galerias pluviais e na paisagem urbana, trabalho que o levou para outros universos como galerias de arte e museus.

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O veterano Jaca (acima) trouxe novas pinturas que concentram riqueza de detalhes. Começou a ilustrar quando ainda morava em Porto Alegre, incentivado por outra fera, Fábio Zimbres. Jaca construiu um imaginário próprio, rico em personagens e cenários doentios, algo entre o desenho infantil e o surreal.

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Parte da vanguarda que a Choque Cultural apresenta, surge a gaúcha Carla Barth que, além da carreira solo, integra o coletivo Upgrade do Macaco. Ela criou um mundo fantástico, de atmosfera psicodélica, com personagens que carregam, ao mesmo tempo, o mistério dos seres mitológicos e a simpatia dos desenhos infantis (foto acima). Suas esculturas de papier-mâché, técnica que explora com maestria, mostram bem a imponência estatuária confrontada à fragilidade do brinquedo.

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Presto é uma dos principais destaques da Coletiva, apresentando trabalhos em desenho e pintura muito delicados, além de suportes construídos (e destruídos) com exímio. O artista de 33 anos estudou na Escola Carlos de Campos, berço de artistas que se consagraram no graffiti paulistano, como Speto, osgemeos e Onesto. Começou a pintar nas ruas em 1996 e, desde então, desenvolve um imaginário próprio, formado por figuras fantásticas e uma caligrafia rebuscada, quase abstrata. A obra acima é dele.

Yumi Takatsuka apresenta novas obras nesta exposição, em que utiliza látex, tinta acrílica e automotiva, sempre sobre madeira. Yumi nasceu e vive, atualmente, no Brasil mas foi criada em Osaka. Fez exposições no Japão e participou da mostra Himegoto, na Choque Cultural, em 2006. Sua grande inspiração são os animais ligados à alimentação. A artista os pinta e desenha sem sentimentos de pena ou indignações. Ela está mais interessada em discutir essas sensações conflitantes contidas no processo do sacrifício para a geração de mais vida, num misto de sutil cromatismo e atmosfera lírica que motiva o observador a enxergar sua obra com mais profundidade.

Reunindo esses artistas, a Choque Cultural pretende apresentar sua progressão, resultado do intenso trabalho de curadoria e suporte à carreira de artistas jovens e consagrados dentro do cenário da arte urbana e contemporânea. “A Coletiva deve ser uma exposição emocionante e impressionante, com pinturas de qualidade e instalações de impacto para o visitante”, resume Eduardo Saretta, sócio-proprietário da galeria.

[todas as imagens: divulgação]

Belas e feras

Achei inspirador esse ensaio fotográfico “Betes de Mode”, criado por Thomas Couderc e Clement Vauchez do escritório de criação gráfica HELMO, para as vitrines da Galeries Lafayette, tempos atrás.

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Confira a ficha técnica:
Betes de Mode: trabalho realizado com Thomas Dimetto / fotos dos animais, Christophe Urbain / fotos das pessoas, Laurent Croisier / styling, Romain Vallos / direção de criação, Anne Claire Boulard e Tulip Santene

Mais recentemente, a dupla criou a instalação “Hunting Colors” para a loja de Issey Miyake. Aproveitando que a grife desenvolveu a coleção de primavera-verão 2009 à partir de 8 cores encontradas na floresta amazônica, a HELMO propôs uma série de serigrafias, nos mesmo tons da coleção, em que figuram insetos brilhantes atraídos pela luz de uma lâmpada.

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Créditos:
Hunting Colors: instalação realizada por Ivann Legall e Laurent Livet / Serigrafias realizadas por  Stephane Bamy

passado de papel

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 Não deixe de ver a exposição Papiers à la Mode, que está em cartaz na Faap e apresenta uma série de réplicas de trajes históricos feitos de papel, em tamanho natural.  

A exposição –cuja autoria é da artista belga Isabelle de Borchgrave, com colaboração da figurinista canadense especializada em ópera, Rita Brown já passou pelo Victoria & Albert Museum, em Londres e pelo Fashion Institute of Technology, em Nova York. 

Usando apenas tintas, dois tipos de papel e a técnica de tromp l’oeil, Isabelle reproduz com perfeição tecidos, bordados e estampas de vestes históricas. Já Rita Brown  é responsável por dar forma tridimensional às peças.

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O resultado é tão próximo da realidade que, à primeira vista, tem-se a impressão de que o intuito é meramente fazer um tour pela história da moda. Mas é bem mais do que isso. Nestas pinturas transformadas em esculturas, aparecem questões sobre a passagem do tempo, o envelhecimento do tecido, a transitoriedade do papel, a impermanência da moda, entre outras.

Como diz o texto de Denise Pollini, no catálogo da exposição: “ao recriar modelos significativos da história da moda no papel, retirando, como a própria Isabelle afirma, a morbidez da memória do corpo que os habitou e a lembrança da perda, ela retira também o aspecto frenético da moda e nos apresenta a possibilidade da contemplação. (…)

Como se pudéssemos parar por um instante o carrossel delirante da moda e, na superfície, dar-nos a conhecer o vestido abajur de Poiret, as múltiplas cores de seda plissada de Fortuny, a sutileza de um padrão, de um dobra”.

“Ao recriar um modelo, Isabelle nos apresenta a verdade secreta presa à superfície, à espera de um olhar atento para revelar-se.”

De fato, a superfície não deve ser desprezada, pois ela é capaz de nos revelar uma infinidade de coisas. Aqui, vale lembrar a célebre frase de Oscar Wilde: “Somente as pessoas superficiais não julgam pelas aparências. O mistério do mundo está no visível, não no invisível.” 

É impossível não lembrar, também, do projeto “A Costura do Invisível” do estilista Jum Nakao que colocou na passarela, em pleno São Paulo Fashion Week, uma série deslumbrante de vestidos confeccionados em papel vegetal. No final do desfile, foram todos propositalmente rasgados e destruídos pelas modelos, diante de uma platéia atônita.

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(à esq. vestido de Jum Nakao, à dir. obra de Isabelle de Borchgrave, ambos de papel)

Apesar de serem duas obras muito distintas, elas se relacionam de maneira  interessante, não? Enquanto Isabelle recria o passado com precisão, Jum Nakao o reinterpreta perfurando a superfície do papel e estilizando as modelagens de época. A artista belga quer que suas peças perpetuem a beleza dos trajes antigos para além do seu passado; o brasileiro as constrói já destinadas a serem efêmeras. Isabelle enaltece o sistema da moda, Nakao o critica e parte para o rompimento.

Voltando à exposição Papiers à la Mode, quem quiser brincar de fazer vestidos de papel ou levar para casa um pouco do universo da artista, pode conferir o mimo, exclusivíssimo, à venda na lojinha do museu da Faap. Eu fiquei babando por essa pequena jóia, o “Atelier de Papier” de Isabelle de Borchgrave.

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As informações a seguir foram enviadas pela assessoria de imprensa:

 Trata-se de uma charmosa caixinha (40cm por 22cm) construída artesanalmente, recheada de gavetas e compartimentos revestidos com papéis pintados a mão pela própria artista. Em seu interior, há também um manequim, dois delicados vestidos em miniatura, stencils, manual de instruções e todo material necessário para que se faça em casa dois modelitos do século XIX: uma jaqueta masculina e um vestido de festa.

As caixinhas fazem parte de uma edição limitada criada especialmente para a exposição no Brasil. São apenas 30 unidades numeradas e assinadas pela artista que serão vendidas na loja da FAAP. (Preço sob consulta)”.

Exposição Papiers à la Mode 

Data: De 12 de Outubro a 14 de Dezembro de 2008
Horários: de 3ª a 6ª feira, das 10h00 às 20h00.
Sábados, Domingos e Feriados, das 13h00 às 17h00.
Local: Museu de Arte Brasileira da FAAP
Endreço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis
01242-902 São Paulo SP
Tel: 55 11 3662-7198

(fotos: Divulgação)

endereços espertos

Programinhas legais para fazer neste final de semana:

*Conferir a loja temporária Misturinha que reúne um monte de marcas legais, inclusive algumas do Rio de Janeiro. É lá na rua Amauri, 352. Só até domingo!

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*Que tal comprar a obra de um artista renomado por, no máximo, R$ 300 e ainda ajudar a arrecadar fundos para o PETA? É só visitar a exposição Lápis Lapin, idealizada por Eduarda Porto de Souza, em cartaz na loja Surface to Air até dia 31 de outubro. 

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[obra de Vicky Scott]

Entre os 30 artistas convidados figuram nomes como Rochelle Costi, Sandra Cinto, Paulo Pasta e DVNO, entre outros. Algumas peças são únicas –como a roupa de coelho criada pela figurinista Peggy Noland, responsável pelos looks da cantora Lovefoxxx, do CSS– mas a grande maioria possui uma edição de 10 unidades.

Além da exposição, a loja está recheada de tentações: acabaram de chegar as novas coleções da Neon e da Amapô; as camisetas fofas da Play – Comme des Garçons; vestidos incríveis de André Lima, Rober Dognani e da estilista japonesa Tsumori Chisato; os colares de metal da Muggia e os enfeites de couro e penas da Nilva Campedelli.

A Surface to Air fica na alameda Lorena, 1989, tel. (11) 3063-4206, Jardins, SP.

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[vestido André Lima]

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[colar com pingentes de metal Muggia]

*Conhecer a Rainbow Room, a livraria mais nova e descolada do momento. Meio escondida numa galeria da alameda Tietê, quase em frente à Lanchonete da Cidade, a lojinha minúscula reúne livros nacionais e impotados, zines, enfeites e acessórios muito bem escolhidos pela proprietária, Flávia Lhacer.

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“Como toda semana chegam novidades, criei um blog para manter os clientes atualizados”, diz Flávia. Se você é como eu e não resiste a um bom livro, prepare-se para ficar muita água na boca e coceira na carteira!

Quer alguns exemplos? “The Cremaster Cycle”, com a obra completa da Mattew Barney; “Live at La Masque”, livro sobre o famoso punk club dos anos 70 em L.A.; “Estranhos no Paraiso”, história em quadrinhos do Terry Moore; e por aí vai…

O endereço da Rainbow Room é: alameda Tietê, 43,  loja 10, tel. (11) 3062-7041. De segunda à sábado, das 10 às 19hs.

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 Hoje eu tive tempo de percorrer, com bastante calma, a exposição Olhar Contemporâneo, que é uma das grandes atrações deste SPFW. Todos os grandes mestres japoneses, que tiveram forte influência na moda do ocidente, estão lá: do precursor Kenzo (que está prestigiando o evento), passando por Rei Kawakubo e Junya Watanabe, da Comme des Garçons; Issey Miyake e Yohji Yamamoto;  até o “novato” JunTakahashi, da Undercover.

Fiquei emocionada de ver, tão de perto, roupas tão especiais que eu só conhecia por meio de fotos, em revistas e sites. Foi como estar na presença da própria história.

Parecia que aquelas peças –testemunhas de uma revolução feita de tecido, costura e imaginação– apesar de estarem temporariamente congeladas nos manequins, poderiam ganhar vida novamente, em algum corpo, a qualquer momento. Afinal, as idéias contidas ali alargaram as fronteiras da moda, renovaram conceitos, trilharam caminhos inéditos. E, ainda hoje esses idéias estão vivas, elas comunicam o novo.

Por isso mesmo, quando me refiro a um destes estilistas, não me furto a denominá-los de criadores.

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De cima para baixo: looks de Yohji Yamamoto, Kenzo, Junya Watanabe e Issey Miyake.

Veja mais fotos no meu FLICKR!

+ programação

No roteiro do fim-de-semana faltou incluir a inauguração do novo espaço da galeria Mezanino, com a expo “Arquitetura da Imaginação”.

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a arte da sublimação

Sábado tem programa bacana para quem gosta de arte: a abertura da exposição Sublime!? na Galeria Emma Thomas. Entre os participantes, destaco os fotógrafos Marcio Simnch e Paulo Bega, que já apareceram aqui no blog. E vou lá e depois conto como foi, ok?

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