segredinhos

O lado bom de trabalhar há um tempão no mercado de moda, e conhecer todo mundo, é que você acaba tendo acesso a informações privilegiadas.

Um passarinho me contou algumas coisinhas sobre o desfile de André Lima, marcado para hoje às 21:15hs.

O estilista francês Ungaro é uma das inspirações. 

Um vestido preto, com muitas camadas de tecido — apelidado carinhosamente de “vestido samambaia”– deve arrasar.

Os arranjos de cabeça foram confeccionados pelo stylist Davi Ramos. Eles são feitos de couro, tachas e penas. Parece que tem um perfume de fetiche no ar!

E diz que a cenografia, a cargo de Marton, será incrível e terá muito carpete.

Pronto falei!

aula de matemática

 O desfile de Alexandre Herchcovitch começou ao som de “Born, Never Asked”  de Laurie Anderson. 

“It was a large room. Full of people. All kinds. And they had all arrived at the same buidling at more or less the same time. And they were all free. And they were all asking themselves the same question: What is behind that curtain?”  

[audio:BornNeverAsked.mp3]

Nada mais apropriado: todas as pessoas ali estavam mesmo se fazendo a mesma pergunta: O que há atrás da cortina?

E a resposta veio na forma de uma equação matemática que balaceava formas, volumes e cores de modo magistral. A começar pelo sapato com palito no salto.

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Passando também por xadrezes mixados com recortes de cetim, boleros armados tipo crinolina, cavas ovaladas, mangas de falso astracã, e muitos outros detalhes de modelagem, característicos do trabalho de Alexandre.

No final do desfile, uma última música de Laurie Anderson –“Language is a Virus”, inspirada na frase do escritor William Burroughs: “language is a virus from outer space”– sinaliza que o estilista comunicou sua mensagem. Agora a notícia vai se espalhar pelo mundo, como um vírus, à medida que o público, os jornalistas e os fotógrafos deixarem a sala.

Cusiosamente, uma outra marca já fez essa mesma associação entre a música de Laurie Anderson e as formas geométricas das roupas. Foi a Maria Bonita na estação passada, primavera-verão 2008. Na época eu fiz um post sobre moda e música, que você pode reler aqui.

Reveja a coleção de verão da Maria Bonita, no desfile que aconteceu em junho de 2007.

Talvez algumas pessoas fiquem tentadas a considerar que houve cópia mas, para mim, é mais uma questão de sintonia e de coincidência.

Onde está o convite?

Mais sobre a procura frenética pelos convites do desfile da Carlota Joakina, que vai rolar no domingo, na Bienal. O pessoal do Descolex e do Fashion Bubbles descobriu mais pistas: segundo fontes confiáveis as duas meninas vão estar juntas, usando vestidos iguais e algum acessório na cor roxa. Agora só falta descobrir a senha!

Marlene e Frida

Fause Haten demosntrou ousadia ao reunir num mesmo desfile territórios tão distintos quanto a Alemanha de Marlene Dietrich e o México de Frida Khalo.

De um lado da passarela –dividida ao meio por uma cortina de voile branco– se viam vestidos de noite longos ou curtos, transparências, paetês e até uma capa, ultra cinematográfica, feita com aplicação de minúsculos quadradinhos de tecido. 

Do outro lado da “fronteira”, bordados étnicos, saiotes de algodão e ponchos bordados enchiam os olhos com um outro tipo de sofisticação. Podia ter virado um carnaval dos diabos mas, felizmente, o contraponto funcionou. E no final, tudo tinha cara de Fause Haten.

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foto: Charles Naseh/ Chic

circuladô de fulô

Gisele na Colcci, pela enésima vez.

Gisele gira como uma agulha numa vitrola tecno monumental. Gira como carne cobiçada no espeto do churrasco grego. Gira como cavalinho de carrossel, linda e limpa.

Todos querem um pedaço, uma lasca, uma fatia.

Tem nome, essa roda que roda e não sai do lugar? É moda?

nova perspectiva

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Olá, olá, olá! O ano novo fashion começou nesta terça-feira com os desfiles do Fashion Rio e parece que já estou atrasada! Os amigos e visitantes habituais já começam a ficar inquietos, perguntando cadê a atualização, os comentários dos desfiles, coisa e tal.

Muita calma nesta hora, rsrsrs. É o seguinte: nesta estação decidi que não vou fazer a cobertura tradicional com comentários dos desfiles. E sabe por quê? Porque todo mundo faz isso. E estou em busca de um olhar diferente, de outras razões e conexões com a moda. Não sei como vai ser, se vai dar certo, se as pessoas vão gostar. Não há garantias. Mas faz parte da minha decisão de não ficar no óbvio e cômodo lugar de sempre.

Vou precisar de mais tempo, talvez, para assimilar os desfiles e formular as questões. Vou abrir mão da “notícia quente” em função do timing da reflexão. Mas vou experimentar algo… diferente.

Vamos nessa?

Foto: André Kertész

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E o desfile de João Pimenta, no segundo dia da Casa de Criadores? Foi sensacional!

Com inspiração primitivista, a coleção faz o escambo cultural entre a tribo norte-americana Navajo e a Maori da Nova Zelândia. Usa cores sóbrias –marrom, azul,  e preto– para simbilozar o decadentismo, o dia e a noite, a morte. As silhuetas são extremas: muito ajustadas ou amplas, roqueiras ou orientais.

O melhor de tudo é que João Pimenta consegue fazer essa salada multiétnica sem perder de vista o homem contemporâneo. É de tirar o folêgo, e o chapéu!

Fotos: Charles Naseh/Chic

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Veja o final do desfile da Ash que mostrou estampas divertidas e debochadas como as de vampiros-políticos, animais transgênicos e boquinhas com aparelho.

Destaque também para as calças tipo saruel (aquelas que tem o cavalo bem baixo, formando um papo no meio das pernas), em versão ampla ou skinny. Este tipo de calça é a nova mania do streetwear e já apareceu em vários outros desfiles.

a moda na enfermaria

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Os amigos têm me perguntado se não vou postar nada sobre os desfiles internacionais. Ai, sabe preguiiiiiiça, mas uma preguiiiiiiiiça muuuuuuuito grande? Pois é… ela está pairando sobre a minha pessoa, mais ou menos como uma nuvem em cima da casa da família Adams. Hehehe!

Sabe o que é? Cansei um pouco de fingir que aqueles desfiles norte-americamos e europeus têm a ver com a moda que acontece abaixo do equador. Todo mundo já sabe, a esta altura do campeonato, que a grande influência de estilistas consagrados como Marc Jacobs, John Galliano e Nicolas Ghesquière vai se revelar na abundância de cópias baratas que serão confeccionadas e vendidas no mundo todo. Que o nível da moda brasileira é bastante bom, PORÉM, nossos maquinários estão defasados, os tecidos e os acabamentos estão longe de atingir a perfeição. E o mercado consumidor então? Nem se fala…ele se divide entre gente endinheirada que consome artigos de luxo, mas não tem estilo próprio nem personalidade para se vestir REALMENTE bem. E uma classe média que se espelha nas celebridades e consome a moda rápida e barata vendida nas Zara da vida.

Sim, nós temos criadores. Mas quem é que está, de fato, interessado no que eles criam?

Eu, você, meia dúzia de gatos pingados? Estou sendo muito ácida? Muito crítica?

Talvez sim, mas o desfile de Marc Jacobs para a Louis Vuitton, com sua equipe de enfermeiras fashion, vestidas com aventais de organza branca, parece diagnosticar, de forma acurada, que a moda hoje precisa de uma UTI urgente!

Ou sou eu que ando delirando???