Kiko Farkas: som traduzido em imagem

Kiko Farkas, designer gráfico dos mais brilhantes, lança na próxima terça-feira “Cartazes musicais”, exposição e livro com cerca de 300 posters, criados entre 2003 e 2007 para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp).

Compostos por elementos aparentemente simples, os cartazes parecem ter a capacidade de traduzir a música em poesia visual.  É como se os símbolos gráficos se transformassem em notas musicais, numa partitura complexa, cheia de ritmo, genial.

No texto de apresentação do livro, a designer norte-americana Paula Scher, criadora dos cartazes para o Public Theater de Nova York, define bem:

“Este pequeno grande livro de Kiko Farkas contém, página a página, todos os ingredientes de um cartaz irresistível: escala, forma, complexidade, padrão, textura, perspicácia, exuberância, linha, cor, minimalismo, tensão, força, lirismo, contenção e surpresa. Muitos dos cartazes são pictóricos e formalistas. Outros são conceituais. Todos são supreendentes em sua diversidade, enquanto a qualidade permance constante”.

Lançamento: Cartazes musicais (Editora CosacNaify)
Dia: 9 de março, às 20hs
Centro Universitário Maria Antonia [Hall de entrada do Edifício Joaquim Nabuco]
Rua Maria Antônia 258, Vila Buarque – São Paulo (SP)
Mais informações: (11) 3255-7182

império dos sonhos

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[Fotos: Cristiano/Reprodução]

Ainda me lembro claramente do impacto que o trabalho de Lino Villaventura me causou, à primeira vista. O estilista paraense, residente em Fortaleza, estava hospedado num flat, em São Paulo, para mostrar a coleção. Fui conduzida até lá pela amiga –e então editora de moda da Marie Claire– Claudia Berkhout.

Por todo o lado, no pequeno apartamento, se espalhavam roupas que me pareciam estranhas, feitas de tecidos elaborados, com cores contundentes e… escamas de peixe! Eu, uma jovem produtora de moda em início de carreira, fiquei fascinada e um pouco perdida dentro daquele mundo de referências desconhecidas.

Como sou péssima com datas, suponho que isso deva ter acontecido entre 1989 e 91. Depois disso, passei a acompanhar o trabalho de Lino com atenção e literalmente, de perto. Sim, para conhecer o universo do estilista é preciso examinar as tramas delicadas, os bordados insanos, as nervuras microscópicas. Da mesma maneira, é necessário expandir o olhar para um mundo teatral, dramático e grandiloqüente,  habitado por mulheres que são meio fadas, meio demônios.

Ou, como define, com perfeição, o jornalista Jackson Araújo (amigo e parceiro criativo do estilista em inúmeros desfiles), no volume dedicado a Lino Villaventura, na Coleção Moda Brasileira, editada pela CosacNaify:

“O seu espetáculo se alimenta de contradições: feminino e masculino, sonho e pesadelo, doçura e agressividade, vida e morte, branco total e preto absoluto, crença e agnosticismo, fome e banquete, floresta e caatinga, verdades e mentiras, orgia e solidão, materialidade e êxtase.”

Nesta edição do SPFW, o estilista comemorou 30 anos de carreira. Fez de sua passarela, palco para homenagear as mulheres fortes que sempre admirou: Ana Bolena, Elizabeth I, Eva Perón, Salomé, Medusa, Carmem Miranda, Isadora Duncan, Billy Holiday, Teda Bara, Gertrude Stein, Maria Callas. Muitas outras e, em especial, Inez Villaventura, aquela que o “impulsiona, incentiva e acompanha nesses 30 anos, com dedicação e companheirismo.”

Durante o desfile, um pensamento me ocorreu: se estas mulheres não existissem, teríamos que inventá-las! Ainda bem que a história e a imaginação deste estilista extraordinário, já se encarregaram disso.

[Fotos do slide show: Charles Naseh/site Chic]