Huis Clos: moda e arte

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“El Playón”, óleo sobre tela de Armando Reverón

A obra do pintor venezuelano Armando Reverón (1889-1954) foi a fonte de inspiração da Huis Clos para criar as estampas da coleção desfilada nesta segunda, 18/06/07, no SPFW. Clo Orozco, estilista da marca, conheceu a obra de Reverón no ano passado, ao visitar uma exposição sobre ele no MoMa, em Nova York. As estampas se baseiam, em especial, nas obras realizadas no período de 1926-1934, fase chamada de “Primeiras Paisagens”. Veja o que diz o texto da exposição: “Sobre estas pinturas –quase monocromáticas, altamente texturizadas, e beirando o abstrato–, Reverón disse: ‘a luz dissolve todas as cores, e todas as cores, afinal, se transformam em branco'”.

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Foto: Charles Nazeh/Chic

Detalhe de uma das estampas

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Moda & Música (labo B)

 Escrevi um post falando sobre moda e música no dia 25/05. E como adoro o tema, “viro o disco” e volto com mais algumas considerações a respeito.

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Muita gente não deve ter a mínima idéia de quem é a figura acima, com cabelos arrepiados, look andrógino e óculos Wayfarer branco.  É Laurie Anderson, artista experimental que atuava fazendo performances e música underground, na Nova York dos anos 70 e 80. A foto é da capa do seu primeiro disco, “Big Science”.

Acho que foi no começo deste ano, em fevereiro para ser mais precisa, que comecei a ficar obcecada pela música de Laurie Anderson. Eu, que era fã da moça nos anos 80, percebi que, de todos os grupos musicais da época, Laurie era das poucas que não havia sido ressuscitada, revista, homenageada. Fiquei com muita vontade de ouvir novamente, então fui (re)comprar, lá na loja Baratos Afins, na Galeria 24 de Maio, o disco “Big Science”.  Um disco de vinil, veja bem!

Até que no dia 14/06, no desfile da Maria Bonita, “O Superman”–a música que a catapultou para a fama–,  enche a sala. As modelos passeiam calmamente por uma passarela de água. Tecidos resinados, paetizados ou sintéticos, dão aspecto úmido às roupas. O caráter cool e intelectual da música casa-se perfeitamente com as peças mostradas.

maria-bonita-spfw.jpgFoto: Charles Naseh/Chic

Estou de queixo caído! Laurie Anderson está redescoberta, enfim!

Aliás, acabo de saber, no site oficial da artista, que “Big Science” vai ser relançado em julho, incluindo bônus inéditos! Que delícia!

Fique com este trecho da música “The Dream Before”, do disco Strange Angels (1989), dedicada ao escritor Walter Benjamin.

“She said: What is History? And he said: History is an angel being blown backwards into the future. He Said: History is a pile of debris and the angel wants to go back and fix things to repair the things that have been broken, but there is a storm blowing from Paradise. And the storm keeps blowing the angel backwards into the future. Anda this storm, this storm is called Progress.”

E com o vídeo de “O Superman”. Preste atenção na letra da música, feita em 1981. É de arrepiar, a leitura que se pode fazer hoje, pós-atentado de 11 de setembro.

…”o you better get ready. ready to go. you can come as you are, but pay as you go. pay as you go. and I said: ok. who is this really? and the voice said: this is the hand, the hand that takes. this is the hand, the hand that takes. here come the planes. they’re american planes. made in america. smoking or non-smoking? and the voice said: neither snow nor gloom of night shall stay these couriers from the swift completion of their appointed rounds. cause when love is gone, theres always justice. and when justive is gone, theres always force. and when force is gone, there’s always mom. hi mom! so hold me, mom, in your long arms. so hold me, mom, in your long arms. in your automatic arms. your electronic arms. in your arms. so hold me, mom, in your long arms. your chemical arms. your military arms. in your electronic arms.”

Acabou a brincadeira?

Acabou a maratona fashion! Afe! Ainda bem, que ninguém é ferro! Toda vez que termina o SPFW, eu tenho vontade de ficar uma semana olhando só para uma parede branca! hehehe! Para desintoxicar de tanta imagem, roupa, modelagem, bordado, cor, prega, volume, drapeado, debrum, acessório!

Mas que nada, amanhã estarei de volta ao Moda sem Frescura a todo vapor, com tendências, destaques, e algumas co-relações interessantes. Até amanhã! Fiquem com esta imagem linda do desfile de Jefferson de Assis, estilista que eu tenho o prazer de acompanhar desde a época da faculdade, quando ele participou do evento Natura Formando Moda, em 2000.

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Assista o final do desfile. Depois eu conto mais!

BlogView

Oi, como eu já disse antes, durante o SPFW estou participando do BlogView: passa lá! Tem um texto maravilhoso do Oliveros sobre o desfile do Ronaldo Fraga e mais um monte de coisas legais. Assim que der eu posto umas coisinhas exclusivas aqui!

Lino Villaventura

 lino-polaroid-1.jpgFoto: Rogério Cavalcanti

Lino Villaventura fez um belo desfile ontem à noite, no SPFW. A inspiração foi a obra do fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, “aclamado pelo aspecto conceituail e filosófico de seu trabalho, bem como pela habilidade técnica” (segundo a Wikipédia), especialmente a série de fotografias intitulada “Theaters”, em que o artista retrata salas de cinema, capturando a imagem durante o tempo integral da projeção do filme. Veja as imagens abaixo, seguidas de uma explicação do próprio Hiroshi Sugimoto.

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“I am a habitual self-interlocutor. One evening while taking photographs at the American Museum of Natural History, I had a near-hallucinatory vision. My internal question-and-answer session leading up to this vision went something like this: “Suppose you shoot a whole movie in a single frame?” The answer: “You get a shining screen.” Immediately I began experimenting in order to realize this vision. One afternoon I walked into a cheap cinema in the East Village with a large-format camera. As soon as the movie started, I fixed the shutter at a wide-open aperture. When the movie finished two hours later, I clicked the shutter closed. That evening I developed the film, and my vision exploded before my eyes.” Hiroshi Sugimoto

Lino Villaventura, que é um criador com personalidade fortíssima, se utiliza da obra do fotógrafo japonês como cenário imaginário para o desfile de uma miríade de seres fantásticos, diáfanos e rebuscados. Parece um sonho de uma noite de verão.

A moda além do hype

Está rolando no MAM a segunda edição do ZIGUE ZAGUE, evento de reflexão sobre moda, concebido por Cristiane Mesquita. Como na edição passada, o ZIGUE ZAGUE é composto por 3 módulos: Desfiles Incríveis, Conversas Transversais e Oficinas Transitivas. 

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(De cima para baixo: look de Ronaldo Fraga e de Walter Rodrigues, ambos do inverno 2007. Fotos de Silvia Boriello)

Das 11 às 13 horas acontecem os Desfiles Incríveis: uma revisão de desfiles significativos, comentados por pessoas de outras áreas, que não a moda. Neste domingo, por exemplo, o tema é “Fabulações e Poéticas Chinesas”, sobre os desfiles de Ronaldo Fraga  e Walter Rodrigues, ambos de inverno 2007. Os comentários ficam a cargo de Carla Mendonça e Christine Greiner, com coordenação de Adriana Vaz Ramos. Na segunda-feira é a vez do desfile de Wilson Ranieri, quem fala é Laura Lima e quem coordena é Maria Monteiro.

Nas Conversas Transversais, convidados inventam relações, intersecções, aproximações e deslocamentos entre moda e arte. Neste domingo, Márcio Banfi, Marilá Dardot e Thais Graciotti conversam sobre “Roupas em troca: pele, desapego e memória”, com coordenação de Rosane Preciosa. Na segunda-feira, a temática será “Procuro-me: aparência e sensação de si”, com Deborah de Paula Souza, Ilana Brenholc e Lenora de Barros, mais a coordenação de Cris Mesquita.

Nas Oficinas Transitivas, que acontecem sempre das 14 às 17 horas, a idéia é sair da teoria e pôr a mão na massa. No sábado, a oficina ensina a fazer impressões sobre tecido com stencil, à partir da exposição “Ronaldo Fraga: política, moda e arte”, realizada pelo MAM. No domingo, é hora de aprender styling, criando roupas e acessórios de papel, inspiradas nas obras dos artistas Pitágoras e Regina Silveira.

Para mais informações: www.mam.org.br ou ana_franco@mam.org.br ou ainda tel. 11 5085 1313

É sempre bom lembrar que a moda não é feita só de hype, glamour e celebridades. Uma boa dose de reflexão, estudo e discussão é essencial para a evolução da linguagem e da cultura de moda, especialmente num país como o nosso, que ainda é “adolescente”  e tem pouca tradição no assunto.

Carta de amor

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Vou deixar de lado o SPFW por um instante, para falar de uma idéia muito bacana. Se você acompanha este blog, já sabe que a stylist Thais Mol inaugurou uma loja na galeria Ouro Fino para comercializar sua marca Mona, que é super bacana. O que talvez você ainda não saiba é que o nome Mona foi escolhido por causa de uma personagem de Henry Miller, que aparece na trilogia “Sexus, Plexus, Nexus” como uma figura misteriosa, sedutora, instável e meio louca. Para criá-la, o escritor se baseou em June Miller, sua segunda mulher. A turbulenta história dos dois, por sua vez, inspirou o livro de Anaïs Nin, “Henry e June”, e o filme homônimo, dirigido por Philip Kaufman.

Mas toda esta história é para contar que em junho –o mês mais romântico do ano– quem fizer comprinhas na Mona, leva junto uma carta de amor “psicografada” pela escritora Cris Lisboa, simulando uma reconciliação entre os dois. Não é lindo? Eu quero! Sou fã do texto da Cris, já li quase tudo do Henry e vários diários da Anais. Posso jurar que esse menage-à-trois vai ser incendiário!

Promessas e dívidas

Oi. Eu tinha prometido as tendências do Fashion Rio, né. E mais um resumo da moda praia. Hummmm, sabe o que é…não deu! Hoje eu tive que fazer todas as coisas que uma criatura precisa fazer antes de cair de cabeça na “semana week de moda fashion paulistana”, sabe assim… cuidar do cabelo, fazer supermercado, comprar o remédio do cachorro, não deu nem tempo de almoçar. Amanhã às 9 tem palestra do WGSN, afe, nem começou e já estou cansada! Num mundo perfeito, as palestras sobre macrotendências sempre começam depois do meio-dia. Aliás, num mundo perfeito TUDO podia começar depois das 12 badaladas.

Enfim, eu vou estar no SPFW direto, fazendo a cobertura para o  BlogView. Para quem ainda não sabe, o BlogView é um coletivo formado por 7 blogs super bacanas. Apareça por lá!

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Enquanto isso, saiba mais sobre a próxima coleção de Ronaldo Fraga –que é inspirada na cantora Nara Leão— lendo um trecho desta ótima entrevista feita por Deborah de Paula Souza, para a revista Claudia.

Por que escolheu Nara Leão como tema?

RF: Tudo começou porque o Nelson Motta, que foi muito amigo dela, convidou a cantora Fernanda Takai para regravar parte de sua obra, lembrando que em 2008 a bossa nova completa 50 anos e em  2009 fará 20 anos que Nara morreu. Fernanda sabia da minha paixão por Nara e, como já cantou em duas trilhas de desfiles meus, me procurou –à partir daí não consegui pensar em outra coisa.

Qual é o tom da sua homenagem?

RF: Nara me permitiu tocar na delicadeza. Na definição de Chico Buarque, ela era aquela menina tímida, frágil e doce que carregou nas costas um banquinho e um violão, o morro carioca, uma passeata de protesto…e eu diria que ela carregou também umas bananas do tropicalismo e um circo, porque gravou muito para o público infantil.

Os joelhos de Nara eram muito elogiados. Vai ter minissaia na coleção?

RF: Claro, vai ter braços e pernas de fora, afinal também estou falando de Copacabana. Não vou copiar o figurino da intérprete, o que me interessa é o seu espírito –fiz uma coleção simples e sofisticada com um quê de melancolia e de auto-ironia. Mostro roupas com textura de pedras portuguesas, com estampa de branco sobre branco. Estou usando tecidos novos, que parecem forro de mesa; trabalhei com estampas da favela, pacotes de sementes de flores e barquinhos bordados. Tentei resumir o que Nara Leão viveu em quatro décadas: bossa nova, resgate da cultura do morro, política –ela foi uma das primeiras a se manisfestar contra a ditadura– canções para as crianças e tropicalismo.

Pode dar um conselho de estilo para as mulheres?

RF: Libertem-se da cartilha fashion, ela muda a toda hora. Estar bem vestida tem a ver com repertório de moda, e isso não se constrói em um dia. O que importa não é se a saia subiu ou desceu, e sim quem você é e quais são as suas escolhas. Antes eu achava que a moda mudava o mundo. Não acho mais. Quem muda o mundo são as pessoas. Mas a moda pode mudar as pessoas.

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