samba de uma nota só

Se a Casa de Criadores fosse uma escola de samba, esta ala desfilaria ao som de um sambinha bossa nova. 

Aqui, o clima é de romantismo e o sabor, de vida real. As roupas não causam surpresas, mas traduzem, sem grande alarde, os desejos de consumo das mulheres: vestidinhos leves, pantalonas, macaquinhos, babados…

Para os rapazes há camisetas pólo, a dupla jaqueta com bermuda, padronagem xadrez, tie-dye…

Diva

Prints I Like

Ianire Soraluze

ADD (Attention Deaf Disorder)

[As fotos de todos os slideshows são de CHARLES NAZEH/CHIC]

originais do ritmo

 Se a Casa de Criadores fosse uma escola de samba, esta ala seria a vencedora do quesito Originalidade.

 A P’tit é uma marca que eu poderia definir recriando um velho sucesso do Renato Russo: “roupa estranha para gente esquisita”.  Isso não é uma crítica negativa, não me entenda mal. É que as modelagens são sempre cheias de “loucurinhas”, recortes estranhos e adereços enigmáticos. Além disso, não parece haver a preocupação de se fazer uma coleção completa, coerente. O que há são peças soltas que orbitam um mesmo universo. Bem, mas se falta coesão, sobra personalidade.

A Ash, conhecida pelas belas estampas grafitadas com apelo streetwear, elegeu como tema desta coleção os animais marinhos ameaçados pela ação do homem. Baleias e águas-vivas aparecem em versões maximizadas e, às vêzes, sob tecidos transparentes.

A grande revelação do Projeto Lab foi a Der Metropol que apresentou uma moda esportiva com vocação street, e ótimas misturas de padronagens, cores e tecidos.  “As camisetas com figuras de animais já nascem hit”, como costumam dizer no site da Erika Palomino.

João Pimenta é um dos darlings da Casa de Criadores e seus desfiles costumam ser, o mínimo, antológicos. Nesta edição, o estilista optou por fazer uma apresentação mais contida, com foco na roupa. Confesso que fiquei um pouco desapontada. O estilista fez, sem dúvida, um belo exercício de estilo usando os uniformes de baseball como mote, mas a gama de cores escuras e as malhas encorpadas resultaram invernais demais. O toque de irreverência ficou por conta dos cabelos.

Gustavo Silvestre, estilista de origem pernambucana, fez bonito com as estampas de carroceria de caminhão, tanto em looks de tecidos naturais –feitos para o dia–, quanto em versões glamourosas, com bordados elaborados.

[todas as fotos são de CHARLES NASEH/CHIC]

luxo e riqueza

Se a Casa de Criadores fosse uma escola de samba, essa seria a Ala do Glamour

Walério Araújo fez um desfile impecável com um truque sensacional: na primeira entrada as modelos vestiam looks longos e glamourosos, em seguida, os mesmos vestidos apareciam em versões curtas. Os arranjos de cabeça, a la Philip Treacy, adicionaram humor.

Rober Dognani fez uma coleção de vestidos de festa com tudo o que uma mulher precisa: cores preciosas, mangas superlativas, decotes vertiginosos, comprimentos mínimos. As modelagens inspiradas em golas de quimonos são surpreendentes, assim como o uso dos materiais transparentes que sustentam os decotes.

Casa de Criadores

É muito bom ver a Casa de Criadores abrindo novamente o calendário da moda. (Os desfiles aconteceram no shopping Frei Caneca, entre os dias 28 e 30 de maio. A seguir, de 7 a 13 de junho, rola o Fashion Rio; e de 17 a 23 de junho, o SPFW. )

Depois de um período de turbulências em que o evento mudou de local e data várias vêzes, ele agora parece fortalecido com a parceria firmada nos últimas estações com o shopping Frei Caneca e a Brastemp.

Aliás, é de admirar a persistência com que André Hidalgo toca o evento há mais de 10 anos, vencendo dificuldades dificuldades de toda ordem –inclusive políticas e financeiras.

Contudo, não creio que devemos nos deixar levar pela condescendência ao julgar a Casa de Criadores ou seus participantes.

O que vi nas passarelas desta edição me fez pensar em algumas questões contraditórias como, por exemplo, o duelo entre a liberdade de criação e a necessidade de produzir moda comercial.

Se o evento se propõe a ser um celeiro de talentos, como se explica que alguns dos participantes apostem em idéias ultracomerciais, sem nada de pessoal ou inovador? Quem precisa de mais um vestidinho de malha igual a centenas que se pode comprar no Bom Retiro?

Sei que não é fácil para o estilista fazer uma coleção com recursos limitados, mas nada explica a falta de evolução de algumas marcas que não conseguem transcender o amadorismo das costuras repuxadas e, principalmente, das idéias frouxas.

Vem em boa hora, portanto, o lançamento do Concurso Ponto Zero, idealizado pela Casa de Criadores e Mercado Mundo Mix; pela Abit, Texbrasil, Apex-Brasil e Sinditêxtil. “Com periodicidade anual, o concurso é voltado aos alunos das principais faculdades e cursos de moda da capital paulista”, diz o press-realese de divulgação. Assim que possível, darei mais informações sobre o concurso.

Felizmente, há muito mais na Casa de Criadores do que os desfiles mornos que critiquei acima. Há gente experiente e talentosa, assim como novatos que, mesmo não alcançando um resultado ideal, conseguem expressar seus desejos de moda com liberdade e irreverência.

[ acima, as geladeiras customizadas pelos estilistas]

Nos próximos posts: minha seleção dos melhores momentos da Casa de Criadores!

um jeans pra chamar de seu

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Muito interessante o projeto “Diesel Genes” que está rolando no site sueco da famosa grife italiana, fabricante de jeans.

A idéia é que as pessoas criem versões artísticas que as representem utilizando imagens de uma calça e as ferramentas fornecidas no site. As obras mais votadas pelo público serão expostas numa grande (e misteriosa) festa que acontecerá no dia 11 de outubro, em Estocolmo.

Eu experimentei e achei uma delícia pintar e customizar os jeans, mas nem de longe consegui um efeito tão sensacional quanto a designer Annika Berger, autora da ilustração acima.

colagem

Adorei a nova edição da U_Mag, batizada de “War & Art  Issue”, com referências do ilustrador  Albrecht Dürer e dos pintores Boticelli e Delacroix, a eterna musa Marienne Faithfull, o modelo Luis Afonso Schwab e muito mais! Vai lá!

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siga aquele tênis!

 converse-peq.jpg

Que a Converse fabrica os tênis mais queridos pelos roqueiros, indies e descolados em geral, não é novidade para ninguém.

Agora, olha que legal a ação que a marca está realizando: um fã da Converse foi escolhido para percorrer os principais shows e festivais do verão europeu –devidamente calçado com “aqueles” tênis, é claro– e contar todos os detalhes da sua jornada no blog Converse Rock Trip.

Nos últimos dias, por exemplo, o “viajante Converse” descolou ingresso para um show secreto do Franz Ferdinand por módicas 10 libras (R$ 35!), comprou discos de vinil em Camden Town e visitou a Penny Lane Street pouco antes de assistir a um show do Paul McCartney em Liverpool, entre outras atividades nada estressantes!

O blog também é interativo e permite que os internautas proponham missões a serem realizadas pelo viajante enquanto ele percorre seu itinerário. Londres, Manchester, Liverpool, Dublin e Amsterdam são alguns dos locais onde acontecerão os maiores eventos de música da Europa.

Para participar é preciso se cadastrar no blog e torcer para que sua sugestão seja aceita, pois cada missão realizada, além de aparecer no blog, premiará seu idealizador com um par de tênis da Converse. Mais legal só se o “viajante Converse” fosse você, né!

[na foto acima, Hunter S. Thompson, James Dean, Sid Vicius, Lobão e Karen O., entre outros, dividem o mesmo par de tênis na campanha mundial da marca]

ao mestre com carinho

Vai ter festa no céu e os anjos vão vestir smokings, vestidos e sahariennes chiquérrimos. Faleceu ontem, aos 71 anos, o estilista Yves Saint Laurent.

Em outubro de 2005 tive o prazer de ver em Paris, na Fondation Pierre Berger- YSL, a exposição “Smoking Fever” que reunia os smokings femininos criados ao longo de 40 anos de carreira.

Para dimensionar a importância do tema da exposição, é preciso lembrar que, se hoje o fato de uma mulher ir a uma festa vestindo um smoking não causa espanto algum, até a década de 60 isso era inconcebível. Saint Laurent literalmente inventou o smoking feminino em 1966. Pela primeira vez, as mulheres passaram a usar calças em seus trajes de noite. Isso representou um avanço muito maior do que podemos supor, numa avaliação apressada. Ao se apossar do smoking, o traje masculino por excelência, as mulheres assumiram também seu poder simbólico.

 Nas salas da Fondation Pierre Berger-Yves Saint Laurent, as dezenas de smokings, sempre iguais e sempre diferentes, estavam dispostos ao redor de um piano de cauda que executava (sem a presença de um pianista) melodias tão eternas quanto as roupas. Na moda, afinal, nem tudo é passageiro.

Para homenagear Saint Laurent selecionei alguns vídeos:

Cenas de um desfile de 1962

Cenas do documentário “Yves Saint Laurent, Tout Terriblement”

O making of do manifesto da coleção Primavera- Verão 2008, com Kate Moss “voyerísticamente” colada ao vidro da Fondation YSL.

passarela

Logo mais, comentários sobre a Casa de Criadores!

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A bela Renata Klem no backstage de Walério Araújo, em foto exclusiva de Rogério Cavalcanti