O sonho das meninas

Hoje, a Folha de Sâo Paulo publicou uma matéria, no caderno Cotidiano, sobre pessoas que estão se passando por “olheiros” de agências de modelo, com a intenção de conseguir fotos sensuais de meninas aspirantes a esta profissão.

Esse tipo de golpe não é novo e nem incomum, só que, agora, ele acontece através da internet, incluindo ferramentas como emails falsos, conversas por MSN, e sugestão de nudez através de webcam. Alguns golpistas chegam a convidar as garotas para virem para São Paulo, como atesta a mãe de uma delas, que tinha concordado com a viagem, em nome do tal “sonho de ser modelo” da filha.

É claro que é preciso alertar as pessoas para que tomem muito cuidado com abordagens de caça-talentos, para que chequem a idoneidade das pessoas e das agências envolvidas. Mas não é só isso, é necessário atentar para esta outra  questão:  ser modelo virou a tábua de salvação, o sonho de consumo de um número enorme de adolescentes. E até de crianças.

Hoje, por coincidência, uma outra matéria jornalística falou sobre a fixação feminina em padrões de beleza e comportamento: o Profissão Repórter de Caco Barcelos, na Globo. O programa acompanhou 3 concursos:

Garota da Laje, que aconteceu em pleno Saara carioca (para quem não conhece, Saara é um bairro de comércio popular, tipo 25 de Março) e tinha como único pré-requisito… gostar de tomar sol na laje.

Mini Miss Brasil, em Santa Catarina, em que crianças a partir de 5 anos de idade competem como gente grande, com maquiagem, poses e sorrisos ensaiados (quem já viu o filme Pequena Miss Sunshine, já sabe a doideira que é) para serem coroadas por sua beleza

Concurso de Prendas, no Rio Grande do Sul, que escolhe a moça mais prendada em termos de tradições gaúchas. E neste caso, ora vejam, ela nem precisa ser bonita, mas tem que saber bordar, cantar e dançar músicas típicas. Uma donzela em pleno século 21.

O contraste entre os 3 concursos foi muito interessante e, sem dúvida, a grande sacada da matéria. Enquanto as  popozudas cariocas exibiam seus atributos sem pudor, as mães se realizavam através do sucesso das filhinhas, e a caravana de moçoilas vestidas com trajes típicos, treinava danças anacrônicas.

Os momentos mais marcantes (ou seriam aterrorizantes?), para mim, foram: a menina de 5 anos, quando questionada pela repórter se admirava de algum adulto, responde: a Gisele! Quem? A Gisele Bundchen! Sim, sem nem gaguejar no sobrenome! A cena em que uma outra garota, de 12 anos, chora depois de ter sido ameaçada com uma surra pela mãe de uma concorrente, por ter esbarrado nela. A popozuda indignada que vocifera para a câmera sua indignação por não ter ganho o prêmio: um automóvel usado, ano 2001. E  ela ainda desdenha da  ganhadora dizendo que tem carro zero!

No concurso de prendas, parece haver mais civilidade, escorrem lágrimas de decepção, mas de forma contida. Afinal, não fica bem para uma dama dos pampas sair dando escândalo em público. Uma das prendas desclassificadas, com silhueta mais roliça que as demais, se alegra pelo sucesso das amigas selecionadas como finalistas. Neste grupo, não há lugar para a rebeldia ou a inveja explícita.

Os fatos falam por si. A competição insana, a beleza como meio de ascenção social, e até a infalível coroação mostram que a fábula da Cinderela, da Gata Borralheira, continua viva no imaginário, nos livros, na televisão, e agora, é claro, nas páginas da web.

Acho até que vale a pena rever o filme da Dove que mostra a manipulação de imagem de uma modelo, aqui.

guarda-tchuva

Nesta segunda-feira paulistana, fria e chuvosa, sugiro esta animação premiada no festival Anima Mundi de 2006, para dar umas risadas.

Aliás, a edição 2009 do Anima Mundi começa nesta quarta-feira, dia 22, e vai até dia 26, no Memorial da América Latina e no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Para ver toda a programação é só acessar o site oficial. Na seção WEB, dá para votar nos 20 finalistas desta categoria!

singrando os sete mares da internet

Há tempos que eu estava com vontade de ficar navegando pela internet, à deriva, sem compromiso nem pressa, atrás de blogs novos. Finalmente, consegui fazer isso por algumas horas e compartilho com vocês alguns dos meus achados.

A propósito do dia internacional do rock, comemorado nesta segunda, dia 13 de julho,  Monica Ash, estudante de moda e autora do blog Diálogo Fashion, republicou as fotos de um editorial intitulado “Here comes the son”, com fotos de Steven Meisel feitas para o suplemento outono/inverno da Fashion Rock, em 2008. A matéria é inspirada na história de amor entre o Beatle George Harrison e Pattie Boyd, “uma das mulheres mais desejadas do mundo do rock”. Quem interpreta o músico é seu filho, Dhani Harrison, enquanto a modelo Sasha Pivovarova  encarna Pattie Boyd.

Sobre a incrível semelhança entre pai e filho, Dhani Harrison diz: “Quando eu comecei a ficar mais velho, meu pai disse, ‘Você se parece mais com George Harrison que eu.’”.

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Já o blog TrendMag, de Beatriz Fregoneze e Guilherme Lombardi, mostrou as vitrines da loja canadense Holt Renfrew, que se “rendeu à popularidade dos blogs trendsetters e lançou, dia 26 do mês passado, 9 vitrines inspiradas em 9 blogs de moda”. É claro que o finíssimo The Sartorialist não podia ficar de fora, e máscaras com o rosto do fotógrafo/blogueiro Scott Schuman foram coladas nos manequins, como você pode ver abaixo!

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E a Camila Coutinho, do Garotas Estúpidas, que eu já conhecia mas há tempos não fazia uma visitinha, além de ter mudado o visual do site (ficou bem bacana!), descobriu uma menina, chamada Daiane Lúcio, de Sorocaba, que faz umas bolsas super simpáticas, com preços ótimos! A marca se chama Dai Bags, espia só!

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Camila conta que as peças podem ser vistas no Flickr da marca, e que “nas fotos, meninas descoladas modelam as bags em poses inusitadas no meio da balada, tipo bem The Cobrasnake“.

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Outra coisa bacana foi ver que o Garotas Estúpidas publicou um editorial de moda, chamado “City Girls”, .com estilo jovem e casual, em sintonia com o público do blog. Para ver a matéria completa clique aqui.

a diversão e o tédio

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“O tédio é um tecido cinzento e quente, revestido por dentro com a seda das cores mais variadas e vibrantes. Nele nós nos enrolamos enquanto sonhamos”. (Walter Benjamin, filósofo)

Este sentimento, também conhecido como enfado, aborrecimento ou fastio, é o tema da primeira exposição individual de Oliver Quinto –amigo querido e ex-colega de trabalho, da época em que fui de editora de moda da revista Marie Claire– que será inaugurada amanhã, na Coletivo Galeria.

Lá, além das aquarelas, uma instalação vai mostrar os inúmeros significados do tédio, segundo o autor e os retratados. Como o tema é pouco usual, telefono para perguntar a Oliver o por quê da escolha. A resposta é desconcertante: “porque as pessoas passam a maior parte da vida sentindo tédio, ou suas variações”.

Argumento que é uma resposta… um tanto blasé (termo que designa uma versão esnobe de tédio). “Você precisa de uma resposta mais inteligente? Posso procurar alguma no Google”, diz Oliver, com o humor peculiar que conheço bem. Rimos  e concordamos que isso só seria necessário caso eu também fosse procurar por perguntas inteligentes. No Google, é claro.

Seja para espantar o seu próprio tédio ou confrontar o alheio, apareça na vernissage.

Exposição: “O Tédio Segundo Oliver Quinto”
Local: Coletivo Galeria – Rua dos Pinheiros, 493 – Pinheiros – SP- tel. (11) 3083-6478
Abertura dia 8 de julho de 2009, às 19:30
Funcionamento: de terça a sexta das 15 às 20 hs, sábado das 14 às 19hs

Mas se o seu tédio for causado pelo trabalho, tenho ainda uma outra dica: compre o  “Caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho”, de Claire Fay. Em formato brochura, ele contém desenhos e atividades que irão confortá-lo durante reuniões insuportáveis e outros eventos chatíssimos e estressantes. Quer alguns exemplos? Lá, você pode desenhar a vaca indo para o brejo, colorir o sapo que você acabou de engolir, ou encher aquele colega “mala” com tachinhas, entre outras opções lúdicas e desopilantes.

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Acima, a capa do “Caderno de rabiscos para adultos entediados no trabalho”, de Claire Fay. À venda na Livraria Cultura por cerca de R$ 15, com direito a risada grátis.

choque elétrico

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Neste sábado, 4 de junho, às 16 horas, rola a abertura da exposição Coletiva Choque 2009, com obras dos artistas Zezão, Jaca (autor da obra acima), Carla Barth, Presto, Daniel Melim, Adam Wallacavage, Jeff Soto, Gachaco, Titi Freak e Yumi Takatsuka.

De acordo com o texto de divulgação do evento, escrito por Larissa Marques, o denominador comum entre os participantes é a “evolução do trabalho, tanto em conceito, quanto em qualidade de pintura. Baixo Ribeiro, sócio-proprietário da galeria, diz que “todos os artistas da Choque Cultural estão buscando ‘passar de fase’, subir um degrau. Eles tem estudado e experimentado como nunca, procurando o aprofundamento técnico e um trabalho mais consistente”.

Ainda segundo o press release:

Para esta exposição, Daniel Melim vai fazer uma instalação no porão da galeria, com as paredes pintadas, além de suas obras, como o que apresentou durante a quinta edição da SP-Arte, em maio deste ano. Daniel Melim é um expoente da stencil art, conhecido por seu trabalho no Jardim Limpão, em São Bernardo do Campo, onde pinta a fachada das casas, colore os becos e vielas.


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Zezão (autor da obra acima e já citado num post por causa do filme “No Traço do Invisível”, que foi exibido no Resfest), que é um dos artistas mais antigos da Choque Cultural, mostra a sua nova fase com trabalhos de colagem. Zezão também é conhecido por suas intervenções em galerias pluviais e na paisagem urbana, trabalho que o levou para outros universos como galerias de arte e museus.

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O veterano Jaca (acima) trouxe novas pinturas que concentram riqueza de detalhes. Começou a ilustrar quando ainda morava em Porto Alegre, incentivado por outra fera, Fábio Zimbres. Jaca construiu um imaginário próprio, rico em personagens e cenários doentios, algo entre o desenho infantil e o surreal.

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Parte da vanguarda que a Choque Cultural apresenta, surge a gaúcha Carla Barth que, além da carreira solo, integra o coletivo Upgrade do Macaco. Ela criou um mundo fantástico, de atmosfera psicodélica, com personagens que carregam, ao mesmo tempo, o mistério dos seres mitológicos e a simpatia dos desenhos infantis (foto acima). Suas esculturas de papier-mâché, técnica que explora com maestria, mostram bem a imponência estatuária confrontada à fragilidade do brinquedo.

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Presto é uma dos principais destaques da Coletiva, apresentando trabalhos em desenho e pintura muito delicados, além de suportes construídos (e destruídos) com exímio. O artista de 33 anos estudou na Escola Carlos de Campos, berço de artistas que se consagraram no graffiti paulistano, como Speto, osgemeos e Onesto. Começou a pintar nas ruas em 1996 e, desde então, desenvolve um imaginário próprio, formado por figuras fantásticas e uma caligrafia rebuscada, quase abstrata. A obra acima é dele.

Yumi Takatsuka apresenta novas obras nesta exposição, em que utiliza látex, tinta acrílica e automotiva, sempre sobre madeira. Yumi nasceu e vive, atualmente, no Brasil mas foi criada em Osaka. Fez exposições no Japão e participou da mostra Himegoto, na Choque Cultural, em 2006. Sua grande inspiração são os animais ligados à alimentação. A artista os pinta e desenha sem sentimentos de pena ou indignações. Ela está mais interessada em discutir essas sensações conflitantes contidas no processo do sacrifício para a geração de mais vida, num misto de sutil cromatismo e atmosfera lírica que motiva o observador a enxergar sua obra com mais profundidade.

Reunindo esses artistas, a Choque Cultural pretende apresentar sua progressão, resultado do intenso trabalho de curadoria e suporte à carreira de artistas jovens e consagrados dentro do cenário da arte urbana e contemporânea. “A Coletiva deve ser uma exposição emocionante e impressionante, com pinturas de qualidade e instalações de impacto para o visitante”, resume Eduardo Saretta, sócio-proprietário da galeria.

[todas as imagens: divulgação]

linda de galochas!

Ontem, passeando pelos Jardins, dei uma passadinha da loja da Melissa –que, aliás, está com uma fachada linda, toda estampada com flores e frutas em 3D– e vi que acabaram de chegar as galochas feitas em parceria com a estilista inglesa Vivienne Westwood.

O mimo se chama Vivienne Westwood Anglomania + Melissa Squiggle Boot e custa R$ 290. E com a chuva que está caindo hoje, eu vou “precisar” muito de uma, com certeza! Gostou da desculpa?

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PS- Depois, no evento de lançamento de primavera-verão da Renner, para a imprensa, conversei com a estilista Gabriela Lima que me contou que a rede varejista também está vendendo galochas lindas. Ela ficou de me mandar umas fotos e eu prometo postar aqui!

contando histórias e derrubando mitos

“O desfile, hoje, não serve para nada. As grandes revistas vendem seus espaços comerciais antecipadamente e as grifes que não podem, ou não querem pagar, são totalmente ignoradas”.

“A moda é a única indústria que dá, gratuitamente, sua invenção para a concorrência, antes que ela seja produzida e vendida. Na minha opinião, a apresentação das coleções deveria ser acoplada à venda. Se você dá sua inovação de graça, a Zara vai produzir e entregar antes de você”. Didier Grumbach, sobre os desfiles de lançamento sazonais.

As frases acima, que criticam o modelo de calendário adotado pela moda na maior parte dos países, foram ditas por Didier Grumbach em 15 de junho, ironicamente, data em que esteve em São Paulo a convite da  São Paulo Fashion Week, para o lançamento de seu livro “Histórias da Moda”.

A publicação traça um panorama histórico do surgimento da alta-costura, no final do século XIX, até os dias atuais. E apesar do assunto ser bastante específico, graças à linguagem acessível e aos detalhes curiosos, a narrativa é capaz de entreter os leitores curiosos sobre o surgimento da moda, mesmo que não tenham formação ou aspiração acadêmica.

Mas o intuito deste post é indicar a leitura da excelente entrevista feita com o escritor, por Tarcisio D’Almeida para o caderno MAIS! da Folha de São Paulo, publicada em 21/06/09. Leia, abaixo, é imperdível!

Para usar e abusar

Autor de “Histórias da Moda”, Didier Grumbach diz que grandes costureiros, como Saint Laurent, foram mais inovadores nas coleções de prêt-à-porter do que na alta-costura

TARCISIO D’ALMEIDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o prêt-à-porter emergia na cultura e na civilização francesas, no início da década de 1960, Didier Grumbach era adolescente: tinha 17 anos. Formou-se em direito, mas, por um erro de percurso, acabou seduzido pela indústria da moda.

Testemunha de uma época em que a hegemonia da tradição elitista da alta-costura começou a ser confrontada com o olhar criativo e visionário dos estilistas do prêt-à-porter, Grumbach acaba de ter seu livro “Histórias da Moda” publicado no Brasil. Em entrevista à Folha, afirmou que “sem megalomania e criatividade a moda não pode existir”.
Em seu livro, a reflexão sobre vestimentas e moda remonta a períodos anteriores à noção moderna de moda, na qual esta se fundamenta a partir do século 19, sobretudo, com a invenção da alta-costura.

Para ele, a moda pode, por isso, colaborar para refletir sobre estruturas do cotidiano, das aparências, dos estilos, dos costumes, das etiquetas, dos gostos e consumo das sociedades. Esses temas, diz, podem contribuir para entender a atual configuração dos mercados de moda no mundo globalizado.
Na entrevista abaixo, ele também advoga em favor do livre espírito criativo da moda.

FOLHA – Como podemos pensar a relação entre roupa, moda, arte e sociedade?
DIDIER GRUMBACH
– A comparação constante entre moda e arte, tendo a alta-costura como parâmetro, é muito mais frágil e contestável do que com o prêt-à-porter nos dias atuais. Este último foi organizado como um sistema de franchising, permitindo ao criador se exprimir de maneira muito mais original. Quando a alta-costura era pujante e o prêt-à-porter não existia, cada costureiro tinha sua própria clientela, à qual ele tinha que se adaptar. Yves Saint Laurent era muito mais livre com suas criações, no ano de 1966, exprimindo-se a partir de suas coleções YSL Rive Gauche. Ele teve a possibilidade de inovar muito mais com o prêt-à-porter do que com sua alta-costura, que era destinada a um público burguês. O prêt-à-porter deu liberdade para os criadores da moda, pois o passado não era estimulante.

FOLHA – Quando o sr. fala de passado, quer dizer que não havia diretores de criação?
GRUMBACH
– Sim. Se observarmos os grandes costureiros e tomarmos como exemplo a Maison Jean Patou no seu período áureo, as coleções começavam a ser apresentadas de manhã e seguiam até a noite sem necessariamente terem um diretor artístico. Era normal ela comprar croquis externos, em particular de Christian Dior, e as clientes achavam normal comprar esses modelos de uma “maison” que não tinha diretor artístico. Aliás, esse questionamento era inexistente, pois era uma época em que a empresa era industrial, e não mais uma “maison” de criação. Para se ter uma ideia, em 1925 a Jean Patou tinha cem vendedoras e 30 provadores de roupas. Também podemos citar Madame Carven, que, em 1948, vendeu 9.000 peças de alta-costura -o que pode ser considerado uma produção industrial. Ou seja, a alta-costura sempre foi uma indústria, mas não uma indústria criativa. A idade de ouro da alta-costura é algo que nos apaixona, mas é como um sonho.

FOLHA – Inspirados no sociólogo alemão Norbert Elias (em “Os Estabelecidos e os Outsiders”, ed. Jorge Zahar), podemos imaginar um confronto entre a tradição dos costureiros da alta-costura e a atitude visionária dos estilistas do prêt-à-porter?
GRUMBACH
– Hoje a ideia de que alta-costura serve de laboratório para o prêt-à-porter não se sustenta de modo nenhum. “Maisons” como Thierry Mugler, Montana e Jean-Paul Gaultier eram líderes do prêt-à-porter e foi na alta-costura que encontraram problemas com os quais nunca souberam lidar.

FOLHA – O sr. afirmou não existir uma moda de um único país, isto é, “moda da França”, “moda do Brasil” etc. Mas, se pensarmos em termos de consumo, a China seria uma aposta para a moda do futuro, até mesmo em termos de criação?
GRUMBACH
– Não, não acredito que a moda chinesa seja a moda do futuro. A dificuldade é que a China não exporta nada, e o Ocidente importa tudo. Seria muito difícil para o mercado chinês concorrer, por exemplo, com a [rede espanhola de “fast fashion”] Zara, por exemplo. E tudo o que se refere à fabricação chinesa é muito complicado, pois é difícil ser, ao mesmo tempo, produtor e fornecedor de produtos baseados em mão de obra barata. Essa mudança de paradigma levaria anos. É o contrário do Japão, por exemplo, que abriu seus mercados ao mundo ocidental nos anos 1950, e a indústria do país pouco a pouco foi se constituindo e crescendo.

FOLHA – No caso do Brasil, quais são as dificuldades e forças em relação a esse mercado?
GRUMBACH
– O Brasil oferece o mesmo nível de dificuldade mecânica no que diz respeito às estações do ano, que não são coincidentes com as de outras regiões do globo. Isso resulta em uma logística complicada. É possível resolver progressivamente esse problema com um certo alinhamento entre as “maisons” por meio de coleções diferenciadas, que guardem uma certa referência a países longínquos -mas sem necessariamente manter uma visão folclórica ou extremamente regionalista de moda. O que é interessante nesse alinhamento é a possibilidade de uma “maison” francesa, por exemplo, poder adquirir produtos ou ter fornecedores e criadores brasileiros que possam desfilar nas semanas de moda de Paris, como foi o caso de Alexandre Herchcovitch. Acredito que em alguns anos, por conta da globalização, isso possa ser realizado, e de forma muito rápida. O que deverá acontecer numa próxima etapa é que criadores da nova geração de todo o mundo -que já entenderam a nova configuração do mercado internacional- poderão contribuir com coleções para Dior, Saint Laurent, Givenchy (e suas criações ficarão relacionadas a essas marcas). Algo que era impensável há alguns anos, mas totalmente possível na atual configuração mundial.

FOLHA – E quais são os desafios para os novos criadores? A moda se pautará pela tecnologia?
GRUMBACH
– A nova geração irá se inserir no mercado de uma maneira rara, pois a moda hoje é um fenômeno tecnológico -não é mais artesanato. Por exemplo, ela pode ser pensada em Paris, desenhada pela internet em outra cidade e produzida em qualquer parte do mundo, como em São Paulo. Isso é algo sensacional! Essa moda irá pautar uma indústria de ponta, pois é um novo modelo de gestão que todos tentam imitar. Trabalhar com criadores hoje é fundamental porque apenas usar o marketing como ferramenta não funciona mais. Um produto que é destinado somente ao mercado brasileiro não poderá ser exportado. Da mesma maneira que um produto direcionado apenas ao mercado francês não será exportado porque a moda é uma indústria de ponta e revolucionária -algo que ela não era há dez anos.

FOLHA – Há possibilidade de algum criador brasileiro desenvolver uma coleção para uma grife internacional, dentro da ideia de globalização, como acontece com o português Felipe Oliveira Baptista?
GRUMBACH
– Eu não estou familiarizado com o parque industrial têxtil brasileiro, mas acredito que é possível fazer várias alianças nesse contexto. Porque o Brasil tem o “savoir-faire” específico em alguns produtos, como moda praia, além do couro e do design de sapatos. Boas alianças podem ser estabelecidas porque existem criadores aptos a aconselhar tanto uma empresa chinesa quanto uma italiana, como a Max Mara -esse é o caso de Felipe Oliveira Baptista. Vivemos a globalização, em que não existem mais nacionalidades, e um brasileiro pode assumir o processo criativo de uma grife internacional, como é o caso de Francisco Costa na Calvin Klein. No mais, ninguém diria que Karl Lagerfeld é alemão e que Alaïa é tunisiano.

TARCISIO D’ALMEIDA é professor de moda na Universidade Anhembi Morumbi (SP). Colaboração e tradução de Marilane Borges .


HISTÓRIAS DA MODA

Autor: Didier Grumbach
Editora: Cosac Naify (tel. 0/xx/11/ 3218-1444)
Quanto: R$ 99 (456 págs.)

uma questão de saúde

Este post faz parte de uma campanha importante, sobre um assunto de saúde pública que pode afetar muita gente!Você sabe o que é linfoma? Conhece alguém que já teve? Não? Nem eu.

Até abril desse ano, quando a Ministra Dilma Rouseff foi diagnosticada portadora de linfoma, um tipo de câncer muito mais comum do que se imagina, as pessoas sabiam pouco ou quase nada sobre o assunto.

Uma pesquisa do DataFolha, realizada em 2008, revela que 66% dos brasileiros nunca sequer ouviu falar nisso, e dados obtidos pela Abrale só confirmam as estatísticas: de 895 pacientes em tratamento, 87% não faziam a menor idéia do que era o Linfoma antes de contrairem a doença.

Apesar do burburinho que se formou em volta do assunto, provocado pelo diagnóstico da Ministra (e, atualmente, da autora da TV Globo, GlóriaPerez), pouca gente faz idéia, por exemplo, que o Linfoma mata mais que 3 mil pessoas por ano, o que corresponde a uma média de 8 pessoas por dia.

Outra informação curiosa, que só quem sofre com a doença sabe, é que o SUS não possui tratamento adequado para o Linfoma e que a lista de medicamentos para esse tipo de câncer não é atualizada há mais de 10 anos pelo governo. Além disso, muitos médicos da rede pública desconhecem como diagnosticar e tratar os pacientes, o que diminui substancialmente as chances de descobrir a doença a tempo de curá-la.

Em poucas palavras, quem não tem dinheiro para arcar com um tratamento em hospital particular como, felizmente, está fazendo a Ministra Dilma, acaba por não ter acesso aos medicamentos mais modernos – como o MabThera – que,
combinados com a quimioterapia, garantem índices muito maiores de recuperação.

Quando diagnosticado a tempo e tratado com os medicamentos certos, os pacientes com Linfoma tem 95% de chance de cura. A esperança é que, quem sabe agora, o governo comece a olhar para esse assunto com outros olhos e recupere os 10 anos de atraso no tratamento da doença.

Resumindo, o que é o Linfoma:
O Linfoma é um tipo de câncer que se desenvolve principalmente nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático, um dos responsáveis pela defesa natural do organismo contra infecções. Existem dois tipos: o de Hodgkin e o não-Hodgkin, que correspondem respectivamente a 20% e 80% dos casos no Brasil e no mundo.

Como é feito o diagnóstico?
O sintoma mais comum é o aumento indolor dos linfonodos, principalmente no pescoço, mediastino (região entre os pulmões e o coração), axilas, abdômem ou virilha. A pessoa pode também ter febre, suor noturno, perda de peso e
coceiras.

E afinal, qual o jeito certo de tratar a doença?
Hoje em dia, o tratamento que oferece a maior chance de cura para os pacientes de Linfoma não-Hodgkin é uma combinação da quimioterapia associada a anticorpos monoclonais, os chamados medicamentos inteligentes.
Isso porque eles combatem as células doentes, preservando as sadias.

COMO CADA UM DE NÓS PODE AJUDAR
A única forma de ajudar quem não tem como bancar um tratamento particular a se curar do Linfoma, é divulgando o assunto e ajudando a mobilizar a população para que ela exija que o tratamento adequado esteja disponível para toda a população.

A problema é que o assunto, de um mês para cá, começou a cair no esquecimento. E para que haja uma resposta do governo, precisamos mobilizar a opinião pública. Para mais informações sobre o Linfoma, acesse www.abrale.org.br

A associação promove, todo mês, vários eventos para esclarecer a população e ajudar os pacientes e familiares durante o tratamento.

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E já que o último post foi sobre Ronaldo Fraga (que na coleção anterior, de inverno 2009, botou idosos na passarela), gostaria de compartilhar com vocês a descoberta de um blog de street style só com velhinhos, o Advanced Style.

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Porque estilo é algo que se pode aprimorar com o tempo, e  juventude é uma questão de espírito! É o que se pode ver nestas senhoras fotografadas, acima, que tem 85 e 92 anos de idade.

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Turbante, estampa de onça e óculos Wayfarer: ontem, hoje, sempre / Fotos: Reprodução do blog Advanced Style