Esta semana, na coluna Tesouros Sem Frescura, Liliane Oraggio vê seu sonho de velocidade se tornar real. Conta tudo, Lili!
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Sempre dirigi bem e poucas coisas me relaxam mais do que me embrenhar numa estrada de terra bem cheia de buracos e surpresas. Fora isso, os carros nunca foram foco da minha paixão. Até que comecei a sonhar com veículos. Às vezes, eu estava na direção de um modelo comprido que não era possível estacionar em lugar algum. Outras, eu ocupava o banco de traz, embora os assentos da frente estivessem vazios… Muitas variações surgiram com o tempo, mas depois de dezenas de ‘noites automobilísticas’ os sonhos, por eles mesmos, começaram a fazer sua síntese. Passei e pilotar modelos incríveis, sempre muito compactos, para uma ou duas pessoas no máximo. Eram velozes, confortáveis e a traseira era quase sempre reta. Eu era transportada em bólidos pretos, vermelhos, prateados, um era azul turquesa e outro anfíbio: passava da terra ao mar numa elegância sublime. Enquanto isso, no tempo acordado, a lentidão do trânsito dezembrino… sufoco dezembrino… calor dezembrino… e… no meio da poluição… surgiu, poderosa, a sincronicidade! Foi sábado passado, na Faria Lima, em plena luz do dia.Tive que me beliscar quando vi em ‘em carne e osso’ o primo irmão das máquinas dos meus sonhos. Não eu não tinha bebido: em rápidos gerúndios ele foi passando, tombando na curva, deslizando para a dianteira da faixa de segurança, feito pluma prateada, chamando uma atenção louca. Babei, mas anotei o nome: Carver One. Dois clics no Google e a competência do repórter Paulo Campo Grande, da Revista Quatro Rodas, provaram que não tinha sido miragem: o bichinho não é carro nem moto, é um triciclo com cockpit. Foi inventado pelo holandês Anton van den Brink para ser a solução econômica e ideal para as grandes cidades. A belezura pesa só 643 quilos, tem motor 2.0 e pode chegar facinho aos 185 km/h. Cruzar com este único exemplar circulando no Brasil me tirou do chão. Por alguns instantes, o relógio parou, o espaço foi comprimido e eu experimentei a sensação de estar no campo da potencialidade pura, onde tudo o que minha mente projeta pode vir a ser real. O tal devir, veio e ganhou velocidade nas ruas despertas do inconsciente…
Por Liliane Oraggio