Acabei de receber o convite para a cerimônia de entrega do Prêmio Moda Brasil, que vai acontecer no próximo dia 29.
Quem trabalha com moda certamente já sabe que o Prêmio Moda Brasil foi concebido por Carlos Jereissati Filho, José Maurício Machline e Tininha Kós, com o intuito de “incentivar o desenvolvimento da moda no País” e funcionar como um “revelador dos novos talentos que despontam em todo território brasileiro“.Uma premissa tão interessante quanto ambiciosa.
A tarefa de selecionar os finalistas –entre os 1.100 inscritos, em 17 categorias— coube a um time de profissionais sérios e tarimbados: Alberto Renault, Carolina Overmeer, Donata Meirelles, Flavia Lafer, Freusa Zechmeister, Gloria Kalil, Isabella Prata, João Carrascosa, Lilian Pacce, Lula Rodrigues e Paulo Martinez.
Além dos jurados citados acima, há ainda os membros do conselho seletivo: Bob Wolfenson, Costanza Pascolato, Flavia Lafer, Patricia Carta, Patrícia Veiga, Paulo Borges e Regina Guerreiro.
Mas o propósito deste post não é veicular as informações técnicas do prêmio, já conhecidas por muitos e à disposição de quem se dispuser a procurar lá no site do evento. Peço mais alguns momentos de atenção e já chego ao ponto que interessa.
Vejamos a seguir, entre tantos inscritos, quais são os finalistas em algumas das categorias:
Estilista de moda feminina: Gloria Coelho, Maria Bonita (Danielle Jensen) e Reinaldo Lourenço
Estilista de moda masculina: Alexandre Herchcovitch, Osklen (Oskar Metsavaht) e Ricardo Almeida
Estilista revelação: Ianire Soraluce, P’tit (Anna O.m Carol Marinone, Leonardo Negrão e Heloisa Faria) e R. Groove (Rique Groove)
Coleção de moda praia: Adriana Degreas, Blue Man e Lenny
Stylist: Felipe Veloso, Giovanni Frasson e Paulo Martinez
Desfile do ano: Maria Bonita Verão 2009 (Direção de Desfile Daniela Thomas), Alexandre Herchcovitch inverno 2008 Masculino (Direção de Desfile Roberta Marzola) e Cavalera Verão 2009 (Direção de Desfile Alberto Renault)
Campanha Publicitária: Arezzo Inverno 2008 (Direção de Arte: Giovanni Bianco), Ellus Inveno 2008 (Direção de Arte: Kleber Matheus) e Osklen Inverno 2008 (Direção de Arte: Ana Amélia Metsavaht)
Fotógrafo: Bob Wolfenson, Jacques Dequeker e Miro
Designer de acessórios: Costança Basto, Francesca Giobbi e Tao Galeria (Marta Ribeiro)
Então…
Das 15 marcas concorrentes nas categorias: moda feminina, moda masculina, coleção moda praia, desfile do ano, campanha publicitária e designer de acessórios, 11 têm loja no shopping Iguatemi, patrocinador do evento. Mais da metade delas é de São Paulo, o restante é do Rio de Janeiro.
Com relação aos fotógrafos temos: Bob Wolfenson, Miro e Jacques Dequeker. Sem sombra de dúvida são fotógrafos de primeira linha, com grande talento. Miro e Wolfenson têm cerca de 30 anos de carreira e de sucesso, cada. Dequeker tem mais de 10 anos de mercado, com ascensão meteórica e trabalhos impecáveis. Mas e quanto à nova geração?
Da mesma maneira, os stylists Giovanni Frasson, Paulo Martinez e Felipe Veloso já provaram há tempos seu potencial criativo. Não surgiu mais ninguém depois deles? E Flávia Pommianoski, Davi Ramos, Daniel Ueda, Juliano Pessoa, Zuel Ferreira, Thais Mol, etc.
Não vou repassar a lista de todas as categorias para não “alugar” o eventual leitor. Mas a história se repete: um revival de figurinhas carimbadas.
Uma única categoria cita novos nomes, a de estilista revelação, em que concorrem Ianire Soraluce, P’tit (Anna O.m Carol Marinone, Leonardo Negrão e Heloisa Faria) e R. Groove (Rique Groove).
Mais um detalhe: quem conhece o mercado de moda sabe que uma boa parte dos membros do juri está diretamente envolvida com os concorrentes. Não estou afirmando que exista má-fé ou corrupção, mas em nome da isenção e da ética, jurados e concorrentes não deveriam se misturar, certo?
Na verdade, a questão vai mais além: com que critérios este juri foi escolhido, e qual é sua representatividade? Exemplo: por que Patricia Carta, diretora da revista Vogue, é a única representante da mídia impressa especializada, convidada para votar? Por que entre todos os fotógrafos importantes do Brasil, apenas Bob Wolfenson? Qual, entre os jurados, vive e trabalha fora do eixo São Paulo-Rio? E por aí vai…
Talvez, num mercado restrito como o nosso, almejar a imparcialidade seja uma utopia. As pessoas, ao se relacionarem profisionalmente, criam vínculos de todo tipo, o tempo todo. E exatamente por isso, insisto na questão da representatividade. Sem ela, não se pode falar em Moda Brasil.
Será que ninguém repara? Já estão todos acostumados às “panelinhas”? Ou, quem sabe, tem um monte de gente que pensa como eu, mas estão todos quietinhos, com receio de perderem negócios & oportunidades?
Não é fácil questionar publicamente o funcionamento de um grande evento criado por pessoas importantes e poderosas. Mas sem reflexão e espírito crítico, nosso mercado de moda não irá amadurecer.