Ficar lendo crítica de desfile, uma atrás da outra, é uma atividade enfadonha, não acha? É um tal acúmulo de descrições, de comprimento que sobe, volume que aumenta, tonalidade que esfumaça, que quando a gente se dá conta nem sabe mais se o balonê voltou, se o jeans é délavé, ou se a estampa é devorée.
Por isso, eu convidei Gabriela Bianco –uma garota sensata, com um humor impagável que faz o blog “Casa da Gabi”— para dar a sua versão dos fatos do SPFW! Solta o verbo, Gabi!
“Antes de tudo, que conste dos autos que eu não trabalho com moda. Não manjo de moda, não sei quais as tendências do verão nem do inverno e acho que um bom vestido preto resolve qualquer problema. Isto posto, vamos aos fatos: não entendi lhufas da São Paulo Fashion Week. Não que eu não capte as vibrações fashion. Por exemplo, ficou claro pra mim que o verão vai ter vestidos soltos e estampados; que os jeans não vão ser escuros, mas sim extralavados, brancos ou coloridos; que os cabelos serão naturais e secos ao vento, ao invés de medonhas chapinhas. Tá.”
“Fora isso? Nada. Mas como sou mulher e adoro meter meu bedelho na moda, vou dar minha modesta opinião de não-fashionista em algumas pecinhas.”
“Ah, sim, a Giselle continua linda. E poderosa, e sorridente, e tudo de bom. Mas sejamos realistas: se nela essa roupinha ficou parecendo aquelas blusinhas tie-dye que a gente compra na feira hippie de Caraguatatuba, imagina em mim, reles mortal sem glamour. E aí, como faz? Preferia a Colcci quando fazia só roupinha moda teen, lá no começo dos anos 90.”
“Sempre acho que o Lino faz vestido pra mulher. Pode parecer uma frase estranha, uma vez que homem (normalmente) não usa vestido, mas tem estilista que faz umas coisas medonhas que engordam e entortam a gente. O Lino não. Ele faz umas coisas meio diferentes, assimétricas, que parecem se mover junto com o corpo da modelo. Solto, fresco, lindão. Só dispensava esse make Dona Corujinha.”
“Ok, o que diabos é isso? Um merengue? Um tufo de algodão? Sei lá. Mas é melhor que isso:”
“Isso é uma espécie de lanterna japonesa costurada numa moça que ainda por cima tá fazendo uma cara feíssima. Eu também faria, se tivesse que ser fotografada usando isso aí. Mas nada supera isso:”
“Lembra quando sua avó punha uma capinha no liquidificador, e a capinha era sempre cheia de babados e numa cor terrível? Pois é. Ou então um monte de forminhas de brigadeiro empilhadas. Pode ser um protesto contra a magreza excessiva das modelos, né? Ou não. Enfim, esses 3 looks são do Sommer. Cadê aquele stretwear bacanudo que ele fazia? Cadê?”
“Aí essa portuguesa (Anabela Baldaque) fez um desfile todo de vestidinhos delícia pra usar no calorão. Umas estampas de florzinha, um ar retrô anos 50 numas saias evasê, tudo indo bem, até que ela resolveu embrulhar um modelo em papel alumínio:”
“Vai saber: de repente as outras modelos estavam com fome e resolveram assar essa menina. Se bem que não ia dar um assado, no máximo uma sopa feita de ossinhos. Mas estou divagando.”
“Depois desse susto, é um prazer falar dos looks da Cori, mezzo indígena, mezzo mexicano, com uma pitada de silhueta anos 40. Amei, achei glam, fino, quero usar.
E pros meninos? Por mim eles podiam todos desfilar assim:”
“Mas o Herchcovitch me ouviu e achou que um vestido preto resolvia tudo, aí ele fez assim, e botou o rapagão de vestido da vovó. Sacanagem.”
“Eu estava aqui com 4 pedras na mão pra jogar no Pedro Lourenço, mas desisti por dois motivos. Primeiro porque ele é pequeno e a gente não bate em criança. E segundo porque ele conseguiu a proeza de criar curvas nas modelos. Olha, parece até que ela tem quadril. E eu gostei das estampas de pássaro. Adorei o conceito como um todo, achei super usável. Mas fiquei com um pouco de medo: se a modelo parece que tem quadril, eu vou ficar parecendo o quê? A linha do Equador?”
“Mas o que me fez gritar “Eu quero!” foi o vestido de oncinha do Samuel Cirnansck. Lindo, lindo, deu vontade de usar agora num casamento e causar horrores.”
“Agora com licença que eu vou ali vestir uma pochete pra me desintoxicar de toda essa coisa fashion. Brincadeira, eu jamais usaria uma pochete. Mas vale lembrar que moda só é legal quando é você que usa a moda, e não a moda que usa você. Ficar antenado com as tendências é ótimo. Usar calça de cintura alta, polainas e blusinha balonê só porque algum estilista de memória curta disse que os anos 80 são o máximo está out em Paris, NY e Milão.” por Gabriela Bianco.
[Fotos: Charles Naseh/chic]