império dos sonhos

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[Fotos: Cristiano/Reprodução]

Ainda me lembro claramente do impacto que o trabalho de Lino Villaventura me causou, à primeira vista. O estilista paraense, residente em Fortaleza, estava hospedado num flat, em São Paulo, para mostrar a coleção. Fui conduzida até lá pela amiga –e então editora de moda da Marie Claire– Claudia Berkhout.

Por todo o lado, no pequeno apartamento, se espalhavam roupas que me pareciam estranhas, feitas de tecidos elaborados, com cores contundentes e… escamas de peixe! Eu, uma jovem produtora de moda em início de carreira, fiquei fascinada e um pouco perdida dentro daquele mundo de referências desconhecidas.

Como sou péssima com datas, suponho que isso deva ter acontecido entre 1989 e 91. Depois disso, passei a acompanhar o trabalho de Lino com atenção e literalmente, de perto. Sim, para conhecer o universo do estilista é preciso examinar as tramas delicadas, os bordados insanos, as nervuras microscópicas. Da mesma maneira, é necessário expandir o olhar para um mundo teatral, dramático e grandiloqüente,  habitado por mulheres que são meio fadas, meio demônios.

Ou, como define, com perfeição, o jornalista Jackson Araújo (amigo e parceiro criativo do estilista em inúmeros desfiles), no volume dedicado a Lino Villaventura, na Coleção Moda Brasileira, editada pela CosacNaify:

“O seu espetáculo se alimenta de contradições: feminino e masculino, sonho e pesadelo, doçura e agressividade, vida e morte, branco total e preto absoluto, crença e agnosticismo, fome e banquete, floresta e caatinga, verdades e mentiras, orgia e solidão, materialidade e êxtase.”

Nesta edição do SPFW, o estilista comemorou 30 anos de carreira. Fez de sua passarela, palco para homenagear as mulheres fortes que sempre admirou: Ana Bolena, Elizabeth I, Eva Perón, Salomé, Medusa, Carmem Miranda, Isadora Duncan, Billy Holiday, Teda Bara, Gertrude Stein, Maria Callas. Muitas outras e, em especial, Inez Villaventura, aquela que o “impulsiona, incentiva e acompanha nesses 30 anos, com dedicação e companheirismo.”

Durante o desfile, um pensamento me ocorreu: se estas mulheres não existissem, teríamos que inventá-las! Ainda bem que a história e a imaginação deste estilista extraordinário, já se encarregaram disso.

[Fotos do slide show: Charles Naseh/site Chic]