Anteontem os fashionistas radicados em São Paulo puderam optar entre dois eventos de moda: a palestra de Paulo Martinez na Escola São Paulo e o debate entre Alexandre Herchcovitch e a figurinista Marília Carneiro, no Teatro Folha. Que maravilha poder escolher entre dois programas tão interessantes!
Fui ver o Paulo Martinez, amigo e profissional que admiro há muito tempo. Ele falou sobre ”O stylist dando personalidade à criação do estilista”, assunto que domina como ninguém. Foi uma aula de profissionalismo e humildade.
Acima, o editor de moda em 3 momentos de intervalo fashion.
(E quem quiser saber o que rolou no outro evento, pode ler a coluna da Oficina de Estilo no BlogView, aqui.)
Acima, fotos feitas por Gui Paganini em Soweto, África, para a primeira edição da revista ffwMag. Edição de Paulo Martinez. Produção de moda de Heleno Jr. Beauty by Max Weber. Repare no casting multiétnico sul-africano.
Com a palavra, Paulo Martinez:
“O mais importante, no trabalho do stylist, é não ser autista. Você tem que saber para quem está trabalhando e o que se espera de você.”
“O styling não deve nunca se sobrepor ao trabalho do estilista.”
Sobre edição de desfile:
“O que é editar um desfile? É um saco, porque você é contratado para decidir o que entra ou não na passarela. E para isso, tem que lidar com o ego do estilista que geralmente gosta de tudo aquilo que criou.”
“Cabe ao stylist direcionar o desfile, ressaltar qual é a notícia, a novidade, que existe ali.”
“As etapas de trabalho incluem: casting (que é a seleção de modelos), fitting (prova de roupa, quando se decide quem vai vestir o quê), edição (a seleção e a seqüência de entrada das roupas), concepção de trilha sonora, cenário, cabelo e maquiagem. É um trabalho de 6 meses que vai durar de 7 a 10 minutos na passarela.”
“Antigamente fazíamos desfiles com 80 a 120 looks. Hoje são 30, 45 looks no máximo. Se passar de 10 minutos de duração as pessoas se entediam e passam a olhar para o que não devem.”
“Uma figura que também é fundamental na concepção do desfile é o diretor artístico. Ele é a pessoa que coordena tudo: luz, som, cenário, casting, edição. É como um manipulador de fantoches, faz com que tudo funcione na hora certa.”
Sobre a crítica de desfile:
“Não acredito em crítica imediata. Acho que é preciso depurar a informação. Quando você revê o desfile, passado o calor do momento, pode gostar de coisas que não tinha gostado antes, e vice-versa.”
Sobre fotos de moda:
“A maior diferença entre entre um desfile e uma foto de moda é que na foto eu te engano o tempo todo. Se o sapato não serve, eu faço uma foto aproximada. Se a roupa está larga, alfineto atrás. No desfile, não. Se a roupa entrou errada, já era.”
“Mesmo quando a roupa é ruim, você tem fazer a foto ficar boa.”
“Quero fazer imagens eternas, que contenham uma verdade. Para isso é preciso ter tesão naquilo que se cria.”
“O stylist tem que saber se adequar ao veículo de comunicação que o contratou. Se vai fazer uma matéria para a Vogue, a Marie Claire ou a ffwMag, ele precisa conhecer a revista, o público, o objetivo.”
Na terceira edição da revista ffwMAG, Paulo conta que a moda seria fotografada em Manaus, tendo como cenário o magnífico Teatro Municipal. Por isso, ele começou a pesquisar óperas e decidiu revisistar a história de Madame Butterfly. E para acentuar a brasilidade desta trágica saga de amor, inventou o personagem de um índio, pelo qual Butterfly teria se apaixonado. Veja o resultado.
As fotos são de Bob Wolfenson e o make-kabuki luxuoso, de Rcardo dos Anjos. As roupas foram confeccionadas com materiais recliclados porque o tema da edição era a sustentabilidade.
Em tempo: Paulo Martinez tem um fotolog muito bacana, chamado arrudaneles. Todo mês o flog segue um tema. No momento, está rolando um lance horizontal, só fotos de pessoas deitadas. Quem deu a notícia primeiro foi Sylvain Justum, no blog C’est Hypercool. Para dar uma espiadinha no flog, clique aqui.
Acima, o modelo Diego Bausen (One Models Brazil) fotografado por Cristiano.