Olívia Hanssen, que faz o blog OH!, escreveu um post descendo a lenha na última coluna do Alcino Leite Neto., publicada na Folha de São Paulo na última sexta-feira. Na matéria, Alcino fala do sucesso dos blogs de street style estrangeiros, como Face Hunter e The Sartorialist, que viraram referência de moda e fonte de pesquisa, influenciando até a indústria do setor. Ele diz também que os blogs brasileiros, deste gênero, estão semi-mortos, sem atualizações recentes. Tudo verdade. E tudo escrito com aquele estilo conciso e primoroso que eu tanto admiro.
Olívia, porém, acerta em levantar algumas questões em seu post/protesto. Aqui vai um trecho:
“…é OBVIO que os sites brasileiros de street style estão atrás dos da Europa pois os brasileiros se vestem de maneira completamente diferente do que na Europa. Vários fatores definem isso, começando pelo poder aquisitivo da população (e nem venha falar em brechós pois os brechós bons daqui são bem caros), passando por fatores climáticos. Sim, existem pessoas bem vestidas no Brasil mas são a minoria. Já morei fora e sei que lá as pessoas se vestem melhor, até eu me vestia de maneira diferente. Então, um blog só deste tipo não faria muito sentido aqui, né?”
Em seguida Olívia cita os blogs BlogView, Moda sem Frescura, Oficina de Estilo, Fora de Moda e Filme Fashion, como exemplos de veículos sérios, dedicados à cobertura de moda nacional, e não só ao street style. (Obrigada pela menção elogiosa, Olivia!)
Tem que ter “guts” para criticar um jornalista importante que escreve num dos jornais de maior importância do Brasil. E só por isso, a atitude de Olívia me inspira respeito e me lembra que este é o verdadeiro espírito blogger: liberdade, isenção e agilidade!
A mídia brasileira não tem dado muita atenção para o fenômeno do blog nacional, até agora. Mas eu acho que isto está começando a mudar. As agências de marketing viral já tomaram conhecimento do movimento blogueiro que rola na moda. O BlogView está credenciado para fazer a cobertura do Fashion Rio. E vamos estar novamente no São Paulo Fashion Week. Não tenho a menor dúvida de que os blogs nacionais, com bom conteúdo e visão alternativa, estão escrevendo um novo capítulo do jornalismo brasileiro.
By the way: eu dei a notícia de que o Face Hunter tinha se mudado de Paris para Londres, em busca de inspiração, no dia 6 de maio, no post intitulado “Em busca do estilo”. E não digo isso para me gabar, para parecer mais inteligente ou mais esperta. As informações estão aí, ao alcance de todos. A agilidade do blog é um dos seus trunfos. Em anexo, o texto integral da matéria do Alcino publicada na Folha.
“A moda nômade dos blogs”
Sites de “street style”, com fotos de anônimos, inspiram a indústria e mudam a geopolítica fashion
Fenômeno que ganhou força no último ano, a febre dos sites de “street style”-blogs que fotografam anônimos vestidos de forma interessante nas ruas das grandes cidades- estão sacudindo a moda. Apesar do caráter alternativo e avesso às tendências do mercado, esses bancos de dados online já começam a servir de referência à indústria fashion.
Nas informações reunidas nos blogs -que acabam funcionando como meios de pesquisa gratuitos-, as empresas e os designers tentam captar o estilo e o desejo das novas gerações, aceleram o ritmo de renovação dos produtos e se abrem para outros centros de moda.
“Com acesso rápido ao que está nas ruas, os estilistas renovam inspirações e isso acaba se refletindo com mais agilidade nos produtos disponíveis no mercado”, afirma Yvan Rodic, dono do Face Hunter, um dos blogs de moda de rua mais consultados pelos fashionistas.
Sai Paris, entra Estocolmo
Um exemplo da força desses sites é o “pai” dos blogs de rua, o The Sartorialist, criado em 2005 pelo americano Scott Schuman e que, recentemente, ganhou um espaço fixo no Style.com, site da poderosa “Vogue” americana.
Nas fotos de Scott, que vive em Nova York, os destaques não são apenas a grande metrópole americana, Paris ou Milão. O mesmo ocorre no Face Hunter e em outros blogs de fotógrafos nômades que estão mudando a geopolítica fashion. Cidades até então ignoradas pelos fashionistas -como Estocolmo (Suécia), Helsinque (Finlândia) e Reykjavík (Islândia)- passaram a ganhar peso igual às chamadas capitais da moda.
“As grandes semanas de moda podem até continuar nos mesmos lugares, mas a inspiração não virá mais de lá”, sentencia Yvan à Folha. “Saí de Paris e me mudei para Londres, porque os jovens da França perderam a ousadia. Mas foi em Estocolmo que encontrei o povo mais estiloso do mundo.”
Liisa Jokinen, do simpático Hel-Looks, de Helsinque, começou a fotografar amigos e conhecidos na saída de festas e logo ganhou espaço na mídia. “Os jovens aqui gostam de cores, se vestem de forma divertida, compram em brechós e não ligam muito para grifes”, conta. Ironicamente, é esse espírito novo e individual que a indústria da moda quer associar aos seus produtos.
Inspiração japonesa
Uma das principais inspirações dos blogueiros é o fotógrafo japonês Shoichi Aoki, que clicou pioneiramente a moda dos jovens no Japão. “Tóquio é uma das fontes mais frescas e influentes”, avalia a estilista Thaís Losso, da grife Sommer.
“Eu também citaria Berlim entre os novos pólos. É um lugar onde vejo gente que passa mensagens na forma de se vestir”, afirma Rony Meisler, da grife carioca Reserva. Para ele, o Brasil também está nessa nova onda. “No Rio, um bermudão e uma sandália já formam opinião”, completa.
Os blogs brasileiros de street style, porém, andam devagar. As poucas opções disponíveis estão no Rio e em São Paulo e não são atualizadas há meses. Por Alcino Leite Neto